Ultimamente só se tem falado em eleições. A grande decisão. Parece final de copa do mundo, só que os dois times falam a mesma língua. Durante essas duas últimas semanas, eu, meu irmão Fábio e meu primo Bruno recebemos mais
de vinte e-mails do meu pai com o pretexto de nos informar sobre os partidos políticos para que melhor tomássemos nossa decisão. Na verdade
suas intenções eram tentar mudar nosso voto. Ele mandou todo tipo de e-mails com entrevistas, fatos, piadas e boatos. Todos para tentar nos convencer, mas não deu certo. Na verdade, ao ler cada um deles, foi crescendo dentro de mim um asco por todo o processo eleitoral. Pensei bastante e respondi aos e-mails. Agora eu deixo abaixo minha resposta para que todos possam refletir. Passem adiante, publiquem, façam o que quiserem, mas reflitam sobre o assunto.
Obrigado
"
Primeiramente devo confessar que fiquei no mínimo boquiaberto pela determinação do pai em tentar convencer-nos a não votar no Lula. É claro que todos já sabiamos de sua orientação política, mas eu não imaginava que fosse demonstrar tanto empenho por esse assunto.
Expresso-me aqui com o maior respeito e ao mesmo tempo orgulho por saber que o pai realmente lutou por algo que acredita, e por mais que nossas conversas anteriores já tenham
demonstrado a não-vontade de alteração na intenção de voto, ele continuou fiel a seus princípios tentando a todo custo fazer-nos enxergar da mesma maneira que ele em relação às eleições.
Tal atitude deveria ser considerada da mais alta nobreza, não fosse um pequeno detalhe já conversado anteriormente: a vitória da emoção sobre a razão. Infelizmente, a vontade dele de tirar o Lula do poder é muito maior do que a vontade de por o Alckmin lá. E isso é percebido pela grande quantidade de e-mails enviados sobre os podres do PT contra uma minoria de
e-mails sobre como seria melhor com o PSDB. Coincidentemente é a mesma estratégia utilizada pela campanha do próprio PSDB. De acordo com um colunista da VEJA, que o nome não me vem a memória, em artigo publicado
essa semana: se o PT não tivesse tantos problemas com essa história de corrupção, o candidato Alckmin não teria campanha, pois esta está baseada no ataque direto ao presidente e seu partido.
Claro que não estou falando que o PSDB não tem propostas. Não existe campanha política sem propostas. O PSDB tem, o PT tem, e os partidos que já ficaram para trás também tinham. O que decide então a vitória em uma
eleição no Brasil? Parece difícil mas é muito simples, e se você perguntar para qualquer intelectual do assunto a resposta será quase unânime: a mídia.
Estamos vivendo uma era em que os meios de comunicação em massa tem maior influencia nas nossas vidas do que pensamos. Somos ensinados a acreditar que eles estão ali simplesmente para nos informar e nos entreter, esquecendo da função máxima desses meios, que é a de manutenção e auto-afirmação da ideologia da classe dominante. E não falo isso sem motivo. O primeiro estudo realizado sobre meios de comunicação em massa, na primeira metade do século XX por norte-americanos, já afirmava isso.
Nos dias de hoje, quando somos realmente expostos a esses meios 24h por dia, o que torna muito mais fácil difundir uma idéia, é triste ver as pessoas acreditarem na imparcialidade das notícias, acreditarem que nem sempre existem outros interesses por trás. É claro que exitem, e não só em relação à política. E sem perceber acabamos todos sendo influenciados a tomar decisões em nossas vidas que espelham as intenções das pessoas que realmente tem o poder nesse país. Não são os pobres, os ricos ou a classe média que manda no país, mas sim uma minoria fantasma que só se fortalece enquanto nós aqui em baixo ficamos dicutindo sobre quem nos representaria melhor na presidência.
Existem duas vertentes ideológicas básicas bem conhecidas: a esquerda e a direita. A primeira visa cuidar primeiro de quem não tem nada, diminuindo a desigualdade social para que depois o país cresça como um todo, mesmo que isso custe um atraso no desenvolvimento do país; a segunda visa um crescimento mais rápido do país, atraindo e acumulando capital, para quando o país for desenvolvido todos possam procurar empregos e crescer a partir do próprio suor, mesmo que isso custe até a vida daqueles que não tem tempo para esperar.
Acreditar que qualquer um dos lados nos trará soluções a curto prazo é o mesmo que acreditar que Papai Noel não só existe como também fabrica ovos de páscoa nas horas vagas. Já a longo prazo, posso dizer que os dois caminhos trariam resultados, pois os dois esperam por um futuro próspero. A nós cabe decidir qual caminho escolher daqui pra frente, o da esquerda ou o da direita.
Como fazer isso? Bem, todo bom intelectual que se preze sabe que a maior arma é a informação. O problema é que todo direitista só obtem informações de direita e todo esquerdista só informações de esquerda. É preciso uma análise muito mais profunda do que isso. Uma análise que leve em conta não o que a informação está te dizendo, mas o que ela quer que você entenda. Só com uma crítica forte e com informações provenientes dos dois lados da história podemos chegar a um veredito consciente.
Eu, que sou hipócrita e desinformado, como a maioria dos brasileiros, optei por votar no Lula pois apesar dos dois partidos parecerem trabalhar da mesma forma, o PT ainda tem um pé na esquerda (apesar de dizer ter os dois) e o PSDB um pé na direita (apesar de dizer ter nenhum). Vejam só. É claro que não estou errado, como não estão errados todos aqueles que votarão no Alckmin. A eleição está aí não para ver o que é certo ou errado, mas para que todos expressem sua opinião através de um voto e a maioria seja ouvida. Democracia. Minha decisão pode ser ilustrada por uma frase de Moacyr Scliar que nada tem a ver com política: “É necessário um mínimo de bens materiais para desenvolver as virtudes da alma”. Então eu penso como é que as pessoas que não tem nem o que comer hoje vão pensar em procurar um emprego ou filosofar sobre política amanhã? Escolhi a esquerda. Minha ética me deixa preocupado com as pessoas que não tem nada. Não os generalizo como vagabundos que querem só mamar de programas sociais, como muitos fazem. Sei que a realidade é muito mais dura e que o buraco é muito mais embaixo. Acredito que as ideologias da esquerda serão melhores para quem realmente precisa.
É claro que tudo isso que falei faria muita gente votar no Lula, não fosse todos os escândalos que aconteceram durante o governo petista, os quais logicamente devem ser levados em consideração. Esses e-mails que o pai tem nos mandado falam bastante sobre isso, o que me fez pensar muito. Os e-mails contando piadas maldosas e matérias extremistas eu desconsiderei, depois de tê-los lido, obviamente. O que eu menos preciso no momento é de terrorismo político tentando me fazer ficar com medo de mais quatro anos de governo Lula. O e-mail sobre o avião de Lula por exemplo. O Fá respondeu de maneira bonita mesmo sem saber direito do assunto. Antes do governo comprá-lo os presidentes viajavam no famoso “sucatão”, nome derivado do estado do antigo avião. Provavelmente se o Serra tivesse vencido as eleições em 2002 o avião também seria trocado, mas daí quem iria falar mal seriam os petistas.
É tudo um grande jogo de interesses onde só a gente sai perdendo por acreditar que não existe um jogo de interesses. Assim como quem vai votar na direita sai perdendo por acreditar que não existe defeito no PSDB. Que não existe corrupção. Basta ver o caso do prefeito de Piracicaba Barjas Negri, ex-ministro de FHC, que nenhum meio de comunicação de direita sequer comentou.
São sim tudo farinha do mesmo saco. A situação e a oposição num jogo pelo poder. E por mais que a minha ética clame pela ideologia de esquerda, ela também não me deixa esquecer que lugar de ladrão é na cadeia.
Como disse antes, sou hipócrita como a maioria dos brasileiros, por isso rezo para que o PT tenha aprendido sua lição e leve a sério os próximos 4 anos. Sou hipócrita pois votarei no partido que mais teve escândalos dos últimos tempos, assim como considero hipócritas todas as pessoas que votarão no outro partido, por acharem que será totalmente diferente. Faltando dois dias para a grande decisão, me parece que o único voto inteligente é o escolhido por meu irmão: o voto nulo.
Aqui vão alguns links só para ilustrar o que eu disse. Haviam outros mais sensacionalistas e consequentemente mais convincentes, porém eu não pretendo baixar o nível para convencer ninguém...
Matéria sobre a mídia durante essas eleições e o caso do dossiê
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5457
Matéria desmentindo a idéia de que o eleitores de Lula não sabem votar
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5409
Porque! Vale a pena dar uma lida
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5465
E para descontrair, Max Gonzaga e a Banda Marginal fazendo crítica e arte no Festival Cultura
http://www.youtube.com/watch?v=ROHY9T6RNL8&
Amo todos vocês, independentemente das eleições.
Beijos... Du
Originalmente publicado em http://fotolog.terra.com.br/verbo1:7 - 27/10/2006 15:25
de vinte e-mails do meu pai com o pretexto de nos informar sobre os partidos políticos para que melhor tomássemos nossa decisão. Na verdade
suas intenções eram tentar mudar nosso voto. Ele mandou todo tipo de e-mails com entrevistas, fatos, piadas e boatos. Todos para tentar nos convencer, mas não deu certo. Na verdade, ao ler cada um deles, foi crescendo dentro de mim um asco por todo o processo eleitoral. Pensei bastante e respondi aos e-mails. Agora eu deixo abaixo minha resposta para que todos possam refletir. Passem adiante, publiquem, façam o que quiserem, mas reflitam sobre o assunto.
Obrigado
"
Primeiramente devo confessar que fiquei no mínimo boquiaberto pela determinação do pai em tentar convencer-nos a não votar no Lula. É claro que todos já sabiamos de sua orientação política, mas eu não imaginava que fosse demonstrar tanto empenho por esse assunto.
Expresso-me aqui com o maior respeito e ao mesmo tempo orgulho por saber que o pai realmente lutou por algo que acredita, e por mais que nossas conversas anteriores já tenham
demonstrado a não-vontade de alteração na intenção de voto, ele continuou fiel a seus princípios tentando a todo custo fazer-nos enxergar da mesma maneira que ele em relação às eleições.
Tal atitude deveria ser considerada da mais alta nobreza, não fosse um pequeno detalhe já conversado anteriormente: a vitória da emoção sobre a razão. Infelizmente, a vontade dele de tirar o Lula do poder é muito maior do que a vontade de por o Alckmin lá. E isso é percebido pela grande quantidade de e-mails enviados sobre os podres do PT contra uma minoria de
e-mails sobre como seria melhor com o PSDB. Coincidentemente é a mesma estratégia utilizada pela campanha do próprio PSDB. De acordo com um colunista da VEJA, que o nome não me vem a memória, em artigo publicado
essa semana: se o PT não tivesse tantos problemas com essa história de corrupção, o candidato Alckmin não teria campanha, pois esta está baseada no ataque direto ao presidente e seu partido.
Claro que não estou falando que o PSDB não tem propostas. Não existe campanha política sem propostas. O PSDB tem, o PT tem, e os partidos que já ficaram para trás também tinham. O que decide então a vitória em uma
eleição no Brasil? Parece difícil mas é muito simples, e se você perguntar para qualquer intelectual do assunto a resposta será quase unânime: a mídia.
Estamos vivendo uma era em que os meios de comunicação em massa tem maior influencia nas nossas vidas do que pensamos. Somos ensinados a acreditar que eles estão ali simplesmente para nos informar e nos entreter, esquecendo da função máxima desses meios, que é a de manutenção e auto-afirmação da ideologia da classe dominante. E não falo isso sem motivo. O primeiro estudo realizado sobre meios de comunicação em massa, na primeira metade do século XX por norte-americanos, já afirmava isso.
Nos dias de hoje, quando somos realmente expostos a esses meios 24h por dia, o que torna muito mais fácil difundir uma idéia, é triste ver as pessoas acreditarem na imparcialidade das notícias, acreditarem que nem sempre existem outros interesses por trás. É claro que exitem, e não só em relação à política. E sem perceber acabamos todos sendo influenciados a tomar decisões em nossas vidas que espelham as intenções das pessoas que realmente tem o poder nesse país. Não são os pobres, os ricos ou a classe média que manda no país, mas sim uma minoria fantasma que só se fortalece enquanto nós aqui em baixo ficamos dicutindo sobre quem nos representaria melhor na presidência.
Existem duas vertentes ideológicas básicas bem conhecidas: a esquerda e a direita. A primeira visa cuidar primeiro de quem não tem nada, diminuindo a desigualdade social para que depois o país cresça como um todo, mesmo que isso custe um atraso no desenvolvimento do país; a segunda visa um crescimento mais rápido do país, atraindo e acumulando capital, para quando o país for desenvolvido todos possam procurar empregos e crescer a partir do próprio suor, mesmo que isso custe até a vida daqueles que não tem tempo para esperar.
Acreditar que qualquer um dos lados nos trará soluções a curto prazo é o mesmo que acreditar que Papai Noel não só existe como também fabrica ovos de páscoa nas horas vagas. Já a longo prazo, posso dizer que os dois caminhos trariam resultados, pois os dois esperam por um futuro próspero. A nós cabe decidir qual caminho escolher daqui pra frente, o da esquerda ou o da direita.
Como fazer isso? Bem, todo bom intelectual que se preze sabe que a maior arma é a informação. O problema é que todo direitista só obtem informações de direita e todo esquerdista só informações de esquerda. É preciso uma análise muito mais profunda do que isso. Uma análise que leve em conta não o que a informação está te dizendo, mas o que ela quer que você entenda. Só com uma crítica forte e com informações provenientes dos dois lados da história podemos chegar a um veredito consciente.
Eu, que sou hipócrita e desinformado, como a maioria dos brasileiros, optei por votar no Lula pois apesar dos dois partidos parecerem trabalhar da mesma forma, o PT ainda tem um pé na esquerda (apesar de dizer ter os dois) e o PSDB um pé na direita (apesar de dizer ter nenhum). Vejam só. É claro que não estou errado, como não estão errados todos aqueles que votarão no Alckmin. A eleição está aí não para ver o que é certo ou errado, mas para que todos expressem sua opinião através de um voto e a maioria seja ouvida. Democracia. Minha decisão pode ser ilustrada por uma frase de Moacyr Scliar que nada tem a ver com política: “É necessário um mínimo de bens materiais para desenvolver as virtudes da alma”. Então eu penso como é que as pessoas que não tem nem o que comer hoje vão pensar em procurar um emprego ou filosofar sobre política amanhã? Escolhi a esquerda. Minha ética me deixa preocupado com as pessoas que não tem nada. Não os generalizo como vagabundos que querem só mamar de programas sociais, como muitos fazem. Sei que a realidade é muito mais dura e que o buraco é muito mais embaixo. Acredito que as ideologias da esquerda serão melhores para quem realmente precisa.
É claro que tudo isso que falei faria muita gente votar no Lula, não fosse todos os escândalos que aconteceram durante o governo petista, os quais logicamente devem ser levados em consideração. Esses e-mails que o pai tem nos mandado falam bastante sobre isso, o que me fez pensar muito. Os e-mails contando piadas maldosas e matérias extremistas eu desconsiderei, depois de tê-los lido, obviamente. O que eu menos preciso no momento é de terrorismo político tentando me fazer ficar com medo de mais quatro anos de governo Lula. O e-mail sobre o avião de Lula por exemplo. O Fá respondeu de maneira bonita mesmo sem saber direito do assunto. Antes do governo comprá-lo os presidentes viajavam no famoso “sucatão”, nome derivado do estado do antigo avião. Provavelmente se o Serra tivesse vencido as eleições em 2002 o avião também seria trocado, mas daí quem iria falar mal seriam os petistas.
É tudo um grande jogo de interesses onde só a gente sai perdendo por acreditar que não existe um jogo de interesses. Assim como quem vai votar na direita sai perdendo por acreditar que não existe defeito no PSDB. Que não existe corrupção. Basta ver o caso do prefeito de Piracicaba Barjas Negri, ex-ministro de FHC, que nenhum meio de comunicação de direita sequer comentou.
São sim tudo farinha do mesmo saco. A situação e a oposição num jogo pelo poder. E por mais que a minha ética clame pela ideologia de esquerda, ela também não me deixa esquecer que lugar de ladrão é na cadeia.
Como disse antes, sou hipócrita como a maioria dos brasileiros, por isso rezo para que o PT tenha aprendido sua lição e leve a sério os próximos 4 anos. Sou hipócrita pois votarei no partido que mais teve escândalos dos últimos tempos, assim como considero hipócritas todas as pessoas que votarão no outro partido, por acharem que será totalmente diferente. Faltando dois dias para a grande decisão, me parece que o único voto inteligente é o escolhido por meu irmão: o voto nulo.
Aqui vão alguns links só para ilustrar o que eu disse. Haviam outros mais sensacionalistas e consequentemente mais convincentes, porém eu não pretendo baixar o nível para convencer ninguém...
Matéria sobre a mídia durante essas eleições e o caso do dossiê
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5457
Matéria desmentindo a idéia de que o eleitores de Lula não sabem votar
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5409
Porque! Vale a pena dar uma lida
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5465
E para descontrair, Max Gonzaga e a Banda Marginal fazendo crítica e arte no Festival Cultura
http://www.youtube.com/watch?v=ROHY9T6RNL8&
Amo todos vocês, independentemente das eleições.
Beijos... Du
Originalmente publicado em http://fotolog.terra.com.br/verbo1:7 - 27/10/2006 15:25
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