quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Curso de Roteiro - Falmouth College University - Aula 1 - Exercício 2



O Exercício 2 achei também muito interessante. É dividido em 3 partes onde eu preciso escrever um texto de no mínimo 500 palavras em cada uma delas. Na primeira parte preciso escrever sobre algo que não gosto, ou que me incomoda muito, em primeira pessoa. Até aí sem problemas. Então na segunda parte, também em primeira pessoa, preciso escrever um texto defendendo a questão que gastei 500 palavras falando mal no primeiro texto, rs. Pra mim foi muito difícil, pois eu não queria de maneira nenhuma que o texto ficasse caricato, ou desse a entender que realmente é uma pessoa mentindo. Precisei refletir e tentar compreender um pensamento que discordo completamente para poder defendê-lo com sinceridade, como um personagem faria em um filme, provando a importância do exercício. Por fim, isso me ajudou também na terceira parte, onde deveria escrever mais um texto em primeira pessoa conciliando as ideias dos dois primeiros textos. Segue o resultado:


PARTE 1

                Difícil o caminho que escolhi neste exercício. Não por essa primeira parte, mas pela segunda, que consiste em defender algo que eu realmente não goste. Pensei em falar sobre música ou sobre qualquer outra coisa que o gosto pessoal possa interferir na argumentação. Esse seria o caminho fácil.
                Escolhi falar sobre a crescente quantidade de pessoas que vem defendendo posições de extrema direita e repetindo ideologias e atitudes muito usadas no passado por fascistas, golpistas e demais reacionários. Escolhi falar sobre esse tema movido pela paixão de defender ainda o que resta de dignidade e diversidade no Brasil e em sua democracia. Escolhi esse tema por sentir ser uma necessidade escrever sobre o assunto, independente se é para um curso de roteiro ou para ser publicado na capa do jornal. É preciso escrever e falar o máximo possível, abrindo o debate e entrando em consenso, esclarecendo e relembrando o povo de porquê tomamos certos caminhos que parecem difíceis, mas que a longo prazo nos trarão maiores benefícios.
                A população brasileira encontra-se em um estado de torpor midiático muito grande. Em especial a classe média. As pessoas continuam engolindo a ideia da imparcialidade jornalística sem perceber as reais intenções de cada um dos meios de comunicação de grande porte instauradas pelas famílias que os controlam e, assim, acabam se tornando meros papagaios, contribuindo para a claudicância dos poderosos em nosso país.
                A direita brasileira está conseguindo semear o ódio nas pessoas menos beneficiadas pelo governo da situação, que é de esquerda. As diferenças entre os dois lados que antes eram dignas de um debate, hoje são medidas na força que cada lado tem em denegrir e eventualmente destruir o ideal do lado contrário. Entretanto a violência que o discurso da direita tem exercido me deixa perplexo e, sinceramente, com muito medo.
                Eu nunca vi durante minha vida um discurso político tão inflamado e violento como este que a direita está levantando no momento. Mas já vi isso nos livros de história, inúmeras vezes. São discursos muito semelhantes aos discursos que permitiram que o Nazismo tivesse apoio popular na Alemanha. Ao mesmo tempo, são muito semelhantes aos discursos que fizeram boa parte da população brasileira acreditar no Golpe Militar. Coincidentemente ou não, também se assemelham ao discurso que George W. Bush utilizou durante a Guerra ao Terror.
                São palavras bonitas e cheias de sentimento que permitem que um governo cometa atrocidades contra sua própria população através do apoio de sua própria população. Parece contraditório dizer isto, mas existe uma frase que eu gosto de repetir que explica bem a situação. O problema das pessoas que apontam o dedo é achar que o dedo nunca vai estar apontado para eles.
                Posso citar dois fatos que ocorreram no ano passado, com apoio popular, que foram atos de um governo extremamente fascista: a reintegração de posse de Pinheirinho e a limpeza da Crackolândia no centro de São Paulo. Ambas foram extremamente violentas e fracamente noticiadas. Poderiam ser chamadas de “massacres” ao invés de limpeza e reintegração, mas não se constrói um governo totalitário com palavras verdadeiras.
Agora vem uma parte interessante. Ambos os atos de truculência citados acima foram executados pela direita do estado de São Paulo. A mesma direita que mantém os lucros da revista Veja distribuindo a mesma nas escolas públicas do estado. A mesma revista que ataca cruelmente a esquerda e os movimentos sociais por ela articulados. Os mesmos ataques que manipulam grande parte da população (inclusive as crianças das escolas públicas do estado) a odiar a esquerda e os movimentos sociais. A mesma mão que atira pedras no Bolsa Família é a mão que serve água com farinha pra uma família de oito pessoas. A mesma mão que aponta os médicos cubanos como escravos é a mão que chicoteia em nome do desenvolvimento econômico. Em suma, a mesma mão que aperta o gatilho é a mão que não troca de canal na televisão.



PARTE 2

                Me cansa muito esse discurso esquerdinha, filhinho de papai. As pessoas ficaram frouxas, com essa história de politicamente correto, querem nos imprimir uma culpa que não nos cabe. É como se eu não estivesse dando duro pra pagar meus impostos, pra cumprir com a minha parte na sociedade.
Como se eu não fosse uma pessoa de bem, ficam me tratando como um criminoso só por querer expressar minha opinião. Reclamam tanto da censura na época da ditadura, mas são eles agora quem estão censurando as pessoas. É que eu tenho coragem de dizer, ao contrário da mídia que fica acobertando as maracutaias da corja que governa este país. Os bandidos deitam e rolam enquanto a gente é que se ferra.
Até bolsa-presídio já inventaram. Eu tenho que acordar todo dia às 7:00 da manhã e trabalhar oito horas por dia pra ganhar meu salário, enquanto um filho da puta que matou, estuprou e fez sei lá o que ganha quase mil reais por mês pra ficar na cadeia sem fazer nada. Aí ao invés do bandido ter o que merece fica de boa na cadeia, protegido pelo manto dos direitos humanos, que mais dividiram a sociedade do que fizeram bem até hoje.
E se você resolve fazer justiça com as próprias mãos, quem vai preso é você. Eles podem entrar na sua casa, roubar suas coisas, estuprar sua filha, mas se você der um tiro em legítima defesa já aparece um monte de adolescente classe média com a camiseta do che guevara pra te pregar na cruz. Queria só ver se fosse com eles, com a família deles, se eles iam continuar defendendo bandido e vagabundo.
E enquanto isso a popularidade da presidenta continua em alta. Eles deixam o povo sem educação pra ficar mais fácil comprar voto. Aí pra fingir que a desigualdade está acabando colocam uns negros na faculdade pelo sistema de cotas. Ou seja, ao invés de resolverem o problema melhorando a educação pública, eles prejudicam pessoas que se esforçaram pra passar no vestibular dando as vagas para quem não merece. Daqui a pouco até o nível das faculdades vai começar a cair pro pessoal das cotas conseguir acompanhar a aula. Assim eles conseguem finalmente deixar o país todo ignorante e votando neles.
Pior do que isso tudo, ainda, é ver a quantidade de dinheiro que o Brasil mandou pra Cuba com essa história dos mais médicos. Trouxe um monte de médico cubano sem conhecimento nenhum pra trabalharem feito escravos enquanto o Fidel fica enche o rabo de dinheiro. Aí depois quando um deles faz uma cagada, é tarde demais pra reclamar. Coitados das pessoas que não tem plano de saúde e vão ter que se consultar com esses médicos. Tinha era que obrigar os políticos a se tratarem no SUS pra eles verem o que é bom.
Olha, tem horas que eu acho que não tem mais solução esse país. Ou manda matar esse monte de vagabundo que só fica querendo crescer às custas do cidadão de bem ou então pode esquecer. Melhor mudar pros EUA ou pra Europa onde as coisas funcionam de verdade. Tenho um primo que tem um esquema em Madrid, acho que vou ligar pra ele. Se eu fosse você começava a procurar algum parente no exterior também.



PARTE 3

                Todos os dias eu vejo uma crescente disputa política tomando conta da cidade. Nas casas, agremiações, clubes, bares e escolas, as pessoas estão mais uma vez se dividindo entre direita e esquerda como em uma guerra-fria contemporânea.             Guerra, sim, pois o sentimento mais recorrente no discurso de ambos os lados é o ódio pelo lado oposto. Um ódio crescente que, antes velado, agora está cada vez mais explícito graças ao advento da internet e a uma leitura equivocada do direito à liberdade de expressão.
                Tornou-se comum vermos jornalistas, celebridades e outros formadores de opinião proliferarem o discurso do ódio contra aqueles que não se alinham ideologicamente da mesma maneira. Profissionais que deveriam refletir mais antes de expressarem sua opinião, agora simplesmente soltam o verbo buscando agradar seu “eleitorado”. Se preocupam mais em ter seguidores, apoiadores e “curtidas” do que com o conteúdo de suas mensagens. Desde que estejam atacando o inimigo, toda estratégia é válida.
                Essa realidade que vivemos hoje muito me faz lembrar a realidade do livro 1984 de Orson Welles, onde a guerra de fria não tem nada. Entre trocas de mísseis e bombardeios noturnos transformados cotidianos, a guerra é essencial a manutenção do caos. É necessário que as pessoas odeiem um inimigo físico, real, tangível, para gastarem sua energia combatendo esse inimigo ao invés de usarem sua força para efetivamente realizar mudanças na sociedade.  E não importa se esse inimigo até ontem era seu amigo, ou se para vencer um novo e maior inimigo, o odiado de ontem se torne o aliado de amanhã. O importante, de acordo com o livro, é continuar favorecendo a estagnação do sistema. É a manutenção do caos.
                Por isso creio eu ser necessário começarmos a perceber a maneira que nos relacionamos com aqueles cujo pensamento e ideologia difere da nossa, passando a agregar conhecimento ao invés de apenas repeli-lo. Independente do quanto acreditamos que o outro está errado, não podemos negar a hipótese de que em sua cabeça existe um motivo e que de alguma maneira, pra ele, isso tudo faz sentido. Não somos capazes de completamente compreender esse motivo se analisarmos apenas sobre a ótica de nossa própria experiência, de vida e conhecimento. É preciso realmente abstrair-se por completo, ignorando os julgamentos pré-estabelecidos dentro de nós, para assim poder envolver-se no pensamento da outra pessoa e aprender com sua história o sentido de se suas ações. Só assim poderemos realmente absorver informações diversificadas provenientes das mais distintas experiências de vida e efetivamente evoluir como ser-humano.
                Com uma compreensão deste nível, talvez sejamos capazes de evitar que essa nova guerra-fria se exploda em uma guerra física. Talvez assim seja possível diminuirmos a produção de equipamento bélico-ideológico e passarmos a aumentar a construção de pontes entre pensamentos antagônicos, buscando um equilíbrio sensato e real que irá trazer apenas benefícios à nossa sociedade, além de respeito e dignidade para cada indivíduo.
                Acredito no ser-humano. Acredito na evolução. Acredito que somos capazes de mudar agora para garantir um futuro justo e ético para nossos filhos, independente do seu posicionamento político ser de direita ou de esquerda.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Curso de Roteiro - Falmouth College University - Aula 1 - Exercício 1

Estou acompanhando o pod cast de um curso de roteiro à distância da faculdade de Falmouth na Nova Zelândia. Estou achando bem interessante e decidi me dedicar. Então postarei aqui alguns dos exercícios propostos.


O exercício de hoje consistia em escrever em 500 palavras que tipo de escritor eu sou. Confesso que 500 palavras é mais do que eu esperava, mas segue o resultado:



Eis que surge uma missão. Escrever com pelo menos 500 palavras que tipo de escritor eu sou. Tarefa fácil no sentido do tamanho, mas será a mesma simplicidade no sentido da essência por ela própria? Oras... Definir identidade é algo que os seres humanos passam gerações tentando fazer e muitas vezes sucedem apenas em descrever a casca disso tudo. Agora me encontro frente à definição de uma identidade profissional, uma caracterização assim por se dizer, que define quem é esse personagem intitulado Eduardo, o escritor.

Historicamente, sempre tive mais facilidade com crônicas. Quando pela primeira vez tive liberdade autoral completa, escrevi algumas crônicas. Antes disso escrevi algumas letras de músicas que arranhava no violão. Todas, que me lembre, em primeira pessoa. Sempre tenho essa simplicidade no diálogo. Eu falando com o leitor, com o espectador. Talvez isso significa que eu escreverei muitos filmes com narrador. Algo um tanto quanto surpreendente já que a grande totalidade dos roteiros que eu tenho escrito não possui narrador. Nenhum deles, creio eu. Mas só o futuro dirá.

Por enquanto preciso me adjetivar um pouco mais para esclarecimento e validade do exercício. Sei que gosto de todas as life-changing-adventures e tudo que deposite fé no ser-humano. Gosto de mostrar como as coisas podem ser diferentes, como tudo pode mudar sempre e como até as tragédias podem transformar nosso caminho em um caminho melhor.

Gosto também de subversão. Tudo o que escracha na cara, que enfia o dedo na ferida e que fala sem rodeios. Quanto maior o sentimento passado na tela, mais a pessoa é tocada pelo filme. E esse sentimento pode ser o choque, pode ser o ultraje, pode ser o horror. Talvez encontrar o equilíbrio entre o ultraje e a sutileza seja um caminho interessante, mas disso só teremos certeza a cada filme feito, a cada alma revelada.

Quando era adolescente eu havia memorizado uma lista Top Life Changing Films só com filmes que eu realmente considerava terem mudado minha vida. Hoje já vi tantos filmes e minha vida já mudou tanto que uma nova lista tornou-se necessário. Assim poderei analisar mais profundamente cada filme e entender mais completamente que tipo de escritor eu sou.

São eles, em ordem aleatória: Clube da Luta, Coração Valente, A vida é Bela, O Fabuloso Destino de Amélie Poulan, Diários de uma Motocicleta, Hair, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Pulp Fiction, Beleza Americana, V de Vingança, Adaptação... Cabem muitos outros, mas para o momento estes bastam.

 O que esses filmes dizem de mim? O que esses filmes dizem pra mim? Cada um deles merece ser visto novamente e analisado cautelosamente. Como eu quero fazer filmes tão bons quanto esses, preciso estudar seus roteiros de cabo a rabo. Entender sua estrutura, seus diálogos, seus segredos.

De cara percebo que minha intenção na escritura de roteiros de ficção sempre esteve correta. Outros formatos me atraem também, claro. Escreverei documentários, peças de teatro e diversas outras manifestações artísticas durante minha vida, mas o foco é e sempre foi apenas um: longas-metragens de ficção.


terça-feira, 20 de agosto de 2013

Exercícios Aleatórios

Tenho me tornado muito crítico, muito intolerante. Quando chego em um local onde não conheço ninguém, rapidamente julgo aqueles que não agem conforme minha expectativa.

Olhava para todos com o mesmo desdém. Publicitários, atores, pseudo-artistas, pseudo-intelectuais. Vestidos como se tomassem café na Champs Elysées, cultos como macacos.

Me senti bem de fazer contra-ponto, mesmo que sem falar muito. Eu que vim de Campinas pra cá de Fusca, exalava gasolina de minhas roupas, barbas e cabelos. Longos, claro.

Escrevo pra treinar, pra soltar a mola da escrivinhagem que permite os mais belos atentados à língua pátria.

Escrevo sem nexo, sem objetivo, só para aquecer, para liberar, para retomar e fluir.

Preciso escrever um diálogo de um seriado que eu não gostei quando assisti. Tenho pouco tempo e pouca paciência. Concordo com a palestrante, não quero fazer só por fazer. Tem que haver dedicação em tudo, tem que se fazer bem feito, tem que haver motivo para cada palavra que está ali no papel, que carregue a história pra frente.

Mãos à obra

domingo, 18 de agosto de 2013

A Tale That Wasn't Written

Como era fácil colecionar amigos...Bastavam interesses semelhantes, respeito e umas boas risadas e já podíamos adicionar esta ou aquela pessoa na nossa lista de "aliados". Mesmo não chegando a se tornar aquele companheiro de aventuras, sabíamos que pelo menos estava do nosso lado, que não era um inimigo.

Inimigo? Aliado? Que batalha? Contra quem ou o que estamos lutando? Acho que essa é uma das raízes do problema. Quando éramos jovens a luta era uma só. Era fácil colecionar amigos. Agora que já sou adulto, vulgo responsável, percebo como diferentes pessoas tem diferentes interesses, e como é difícil agradar a todos.

Trinta e um anos nas costas e deve ser a primeira vez que reflito sobre isso. Não sobre os amigos, sobre mim.

No Grooveshark, Michael Kiske está cantando A Tale That Wasn't Right... Abre dizendo Here I stand, All Alone...

Exatamente como me encontro. Mesmo com minha esposa na sala ao lado. 

In my mind, in my soul... I really hate to pay this toll.

Cada frase que escrevo, uma tragada no meu rivotril natural. Hoje com haxixe, pra dar aquele extra que há anos não sentia...

Acho incrível como às vezes pretendemos falar uma coisa e acabamos falando sobre outras... Não só aqui no texto, escrito a medida que é pensado, mas na vida real, nas discussões e debates com outros seres. Quantas vezes já não me peguei falando algo que não é exatamente o que eu penso ou acredito. Às vezes por pressão do meio, outras vezes pelo calor do momento. E isso não pode acontecer mais. Eu sei o que eu penso, eu sei quem eu sou... Hora de definir o que eu quero.

Bom, o alvo principal todos sabem: Escrever e Dirigir Longa-Metragens de Ficção!

Pra chegar lá preciso começar a escrever e dirigir curta... É isso !

Ser profissional, não esperar nada em troca dos outros... Fazer meu trabalho. Vencer!

Cada um tem sua função no mundo e eu preciso exercer a minha. Siga em paz que eu também seguirei... Tenho aqueles que me amam para me dar apoio quando eu precisar. 

Estou pronto para aceitar meu destino.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Pequenas Hipocrisias



     Nossa gente... Faz muito tempo que eu não posto aqui no blog. Estou montando um blog novo com a Helô (minha esposa) e acabei lembrando que este aqui estava parado. Então só para dar uma ressucitada nele, vou copiar um texto que escrevi alguns dias atrás intitulado Pequenas Hipocrisias:


          Estou cansado das pequenas hipocrisias. Sei que já devo ter falado sobre isso, mas é que existe apenas um tanto que um homem pode suportar e eu estou chegando no limite. Como podem as pessoas conviverem com essas pequenas hipocrisias, essas mentiras do dia a dia, que parecem inofensivas mas são tão destruidoras quanto qualquer outra. 
          Eu muitas vezes penso em não tomar partido, em me afastar da discussão, em deixar as pessoas aprenderem em seu próprio tempo... Mas infelizmente de uns tempos pra cá tenho ouvido tantas bobagens que não sei mais se posso ficar quieto. Vou voltar aos meus áureos anos de militância e meter a boca no mundo. 
          Nunca houve uma época em que houvessem tantas pessoas descontentes, incomodadas e cansadas da situação. E ao invés de executarem a mudança real, ficam atirando para qualquer lado, cada um com a sua ilusão de inimigo ideal, sem perceber que o inimigo real não é um quem, mas um como. 
          O que está errado nesse mundo é o sistema socioeconômico que vivemos. Em hipótese nenhuma a “vitória” ou a busca pelo “poder” deve estar acima da vida de outras pessoas. E isso acontece diariamente. Vidas são destruídas em frações de segundos para o benefício de alguns poucos milionários. Em benefício da máquina. E isso está errado. 
          E o pior é que nem é o maior beneficiado quem puxa o botão. Somos nós. Nós é que destruímos vidas, nós é que rebaixamos pessoas, nós é que puxamos o gatilho. Nos tornamos ao mesmo tempo carrascos e vítimas do mecanismo. Somos convencidos a comprar o que não precisamos, trabalhamos por algumas migalhas e colocamos os interesses do sistema à frente do interesse social. E cada vez que começamos a desconfiar ganhamos uma migalha maior. Cada vez que lembramos que algo está errado somos recompensado com uma promoção, um carro novo, um título. E aí aceitamos uma pequena mentirinha. Aceitamos que apesar de todo o mal existe um certo bem... Que mesmo que a empresa X polua o planeta ela investe em meio ambiente. Que a obra deixou 500 desempregados mas deu cesta básica pra todo mundo. Que rouba mas faz. Uma pequena hipocrisia dessas qualquer... 
    
          E pronto, fomos corrompidos. 
     
          Somos todos corruptos e hipócritas e nos questionamos porque nossos governantes também agem dessa maneira. A política não é o problema... O sistema precisa ser mudado e isso precisa acontecer de maneira drástica. 
          Creio que é chegado o momento de aceitar algumas pequenas verdades, e não mais se deixar iludir pelos sete pecados capitais. E preciso pegar as rédeas da vida e rumar por terras firmes, sabendo onde estamos pisando e porque o estamos fazendo. Por sermos realmente livres e escolhermos outro caminho, o caminho contrário. 

          Pra sempre


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