sábado, 21 de fevereiro de 2015

Sinais da Depressão

    Trabalho sem parar. Horas a fio, sem descanso, sem folga, várias semanas. Faço tudo isso sem pensar em nada. Com o cérebro zumbiônico, como se anestesiado por uma força truculenta e esmagadora, evito olhar nos olhos dela com medo de ser desintegrado. Ou seria corrompido? Já nem sei mais a diferença.

    Tenho uma meta apenas: sobreviver. Aguentar mais um dia pra poder chegar em casa com um cheque magro e sem gosto. Pagar minhas contas e a enorme quantidade de juros que invadem meu café da manhã em cobranças através de telefonemas intermináveis. Todo dia, dia a dia. Já nem sei mais que conta eu paguei, pra qual banco eu devo.

    Chego em casa e não sinto alívio. Durmo dois dias inteiros e ainda não descanso. Não encontro conforto, sabendo que na manhã seguinte preciso me vender novamente ao mercado. Não consigo relaxar sabendo que tantos problemas (que não fui eu quem criou) dependem exclusivamente do meu suor e da minha gana para serem resolvidos. Estou sendo mal pago pra isso.

    Levanto a cabeça com um certo falso orgulho. O trabalho dignifica. É o que nos faz homens! Vontade desgraçada de ser bicho, de cagar no mato, de uivar pra lua. Carpe diem eterno para quem não tem noção de passado e futuro. Benção reservada apenas aos mais ignorantes ou aos mais iluminados. Para os outros 7 bilhões que não são nem ignorantes nem iluminados, nos resta o sofrimento. 

    E esse sofrimento nem sempre vem em forma de dor. Esse sofrimento nem sempre vem em forma de choro. Ele vem sorrateiro, cheio de marasmo, tirando o prazer da vida pouco a pouco. Deixando tudo cinza, anêmico, incompreensível. O vinho não tem mais sabor. As piadas não tem mais graça. Só o relógio na parede, tic tac, segundo após segundo de intermináveis horas de solidão. Mesmo com amigos e amados em volta. Ninguém compartilha do sofrimento e o pobre rapaz sofre calado.

    Pobre rapaz? Pobre de mim que escrevo estas palavras desnecessárias quando deveria estar trabalhando. Pobre de mim que fico no escritório pensando em estar em casa e fico em casa pensando no trabalho. Pobre de mim que não sei dançar, que não sei cantar, que deixo o violão se empoeirar. 

    Pobre de mim que sou pobre. Que não tenho dinheiro pra fazer as coisas que eu gosto e gasto dinheiro com coisas que eu não preciso. Que busco um futuro promissor mas não sei mais pra onde meu presente está me levando.

    Pobre. Pobres desejos. Pobres palavras. Paupérrima vida.