À este caderno recorro, pois só ele me encontrou nesse momento de solidão. Solidão esta não por não ter amigos nem por me encontrar sozinho, e sim por jamais conseguir me fazer entender e, da mesma forma, entender o mundo. Sozinho no pensamento.
Difícil explicar. Difícil entender. E como pode ser? Eu que me preoculpo tanto em ser coeso, em fazer sentido. Parece que só eu entendo o que eu digo, ou escrevo.
Talvez seja natural do ser humano não entender nada. Vai ver ninguém faz a mínima idéia do que está acontecendo e acha que consegue se explicar.
Livres? Será mesmo? Quem garante que não somos todos marionetes? Ou pior ainda, quem garante que não somos apenas resquícios da continuidade caótica que foi o Big Bang? A gente acha que pensa, a gente acha que cria, a gente acha que ama, mas no fundo somos apenas átomos se chocando de maneira desordenada.
Essa caneta escrevendo meus pensamentos, por exemplo. São rabiscos aleatórios com um significado convencionado, e ainda assim fazem-me acreditar em alma, em arte, em infinito. Apenas sujeira caindo em pedaços de árvore morta. Nada mais.
Tudo bem, eu tenho que concordar que algo está acontecendo, mas até aí nem você, nem o Papa, nem Stephen Hawkin sabe com certeza. E nós nunca saberemos com certeza.
Você consegue encontrar uma explicação plausível pro dinheiro e para tudo que ele envolve? Vamos, pense... Toda a noção do se humano de valor, de poder... Tudo é convencionado. Tudo é apenas uma grande metáfora dessa confusão que é a existência humana. Aliás, toda a existência medíocre do universo é extremamente confusa, ou como diria Robert Crumb: The whole universe is completely insane!!
Disse-me Aleister Crowley que o segredo da vida está na verdadeira vontade. "Do what thou wilt" é a Lei. A verdadeira Vontade. Pode um homem confuso, vivendo num universo tão caótico ter tanta certeza do que quer e do que não quer??? Acho que hoje vou ficar com a frase do Crumb.
Cada dia que passa o ser humano parece ter mais dúvidas, mais medos. Olhe a quantidade de doenças modernas que existem: Síndrome de não sei o que, distúrbio de não sei o que lá... Doenças psico-emocionais. Doenças da alma. Como pode a alma infinita ficar doente eu não sei, mas a minha parece ficar com uma certa frequência.
Paranóia. De maneira bem superficial a pessoa paranóica é aquela que foca demais em algo que não precisa tanto. Pensam demais em um determinado assunto. Pessoas paranóicas com assaltos, por exemplo, aumentam o muro de suas casa, colocam alarme, trancam as portas, põe cerca elétrica e ficam imaginando todas as maneiras como um ladrão pode entrar na casa para impedí-lo. Pensam mais até do que o próprio ladrão e, quando chega o fatídico, o ladrão só pensou no único detalhe que a pessoa esqueceu, ou então nem pensou em nada, mas resolveu roubar a casa no único dia em que todo o sistema de segurança deu pau. Caos total.
No final, não adianta ser paranóico, pois as possibilidades são infinitas.
Eu sou paranóico com as palavras. Eu acho que elas devem transmitir os pensamentos com exatidão e serem bem compreendidas pelo receptor. Enquanto escrevo em meu caderno com o intuito de desabafar, já vou imaginando em como passar esse texto para o fotolog, e como as pessoas iriam ler e o que essas pessoas entenderiam do que eu escrevi. E agora que estou no computador, eu ajusto o texto aqui, mudo um pouco ali, sempre pensando em quem vai ler. A mensagem em si perdeu o sentido, ganha agora sentido o veículo, ou seja, se a mensagem é bem passada.
Parando pra pensar agora vejo que sou fruto da indústria cultural mesmo. Assim como uma propaganda, o conteúdo do meu texto não tem a mesma importância do que atingir a pessoa que está lendo. Eu me preoculpó muito mais se você vai se sensibilizar, entender, concordar ou aceitar o que eu estou escrevendo do que o que consta nessas palavras. Paranóia. Pensar demais sobre um assunto que no fim é meramente caótico.
Não é o dinheiro, não é o poder, não é a concepção de alma, arte ou infinito. É acreditar que se vê o mundo com maior clareza do que as outras pessoas e tentar explicá-lo à elas. É loucura, é paranóia... Mas pode trazer dinheiro, fama e alma.
Perdoem-me se pareço saber demais, ou se finjo saber demais. É que eu já processei muita informação nessa vida e tenhom uma memória razoavelmente boa.
Agora, se eu quisesse falar apenas uma verdade na minha vida, apenas uma certeza, é que o ser humano não faz idéia do que realmente está acontecendo mas finge o contrário para dar um sentido à sua vida.
A gente morre de medo da morte, por isso precisa acreditar em algo para continuar vivendo...
Dá pra acreditar???????????????
Talvez o Crumb esteja certo mesmo...
Algumas outras frases do Crumb:
"I feel that my work is but a feeble expression of something that in itself is vague and doubtful ... Sometimes when I probe myself I find that my intentions in art aren’t as sincere as they should be...I realize that I’m fairly good at drawing, but you see that’s only because I’ve done so much of it, and it seems sometimes that the only reason I have stuck at it so diligently is because I have to sort of get even with society for not accepting me ... Subconsciously I want to make myself immortal among men, leave my mark on the earth to compensate for social inadequacy ... So I draw ... If I got rid of my greatness complex I probably would lose my desire to draw. It seems to me that a true artist is a man who is passionately in love with line, form, color or some aspect of life ... While these things appeal to me, I don’t find any real burning passion for them within myself ... The only burning passion I’m sure I have is the passion for sex ... "
"My work is full of sweating, nervous uneasiness, which is a big part of me and everybody else. Most people don’t want to see that though, because it reminds them of inadequate parts of themselves. "
"The whole universe is completely insane!! "
"At least I hate myself as much as I hate anybody else. "
"Nobody understands. And of course, how could they? "
"Though I might be very fond of particular individuals, humanity in general fills me with contempt and despair. I hate most of what passes for civilization. I hate the modern world."
E alguns sites para seu maior compreendimento desse universo caótico:
http://www.crumbproducts.com/ - Produtos do Crumb
http://rcrumb.net/ - Página do Crumb
http://www.blueseveryday.blogspot.com/2007/05/robert-crumb-blues.html - Crumb e o Blues
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aleister_Crowley - Descrição wiki do Crowley
http://www.insite.com.br/art/pessoa/misc/crowleyenct.html - Crowley e Fernando Pessoa
Originalmente publicado em http://fotolog.terra.com.br/verbo01:20 - 04/10/2007 15:56
Difícil explicar. Difícil entender. E como pode ser? Eu que me preoculpo tanto em ser coeso, em fazer sentido. Parece que só eu entendo o que eu digo, ou escrevo.
Talvez seja natural do ser humano não entender nada. Vai ver ninguém faz a mínima idéia do que está acontecendo e acha que consegue se explicar.
Livres? Será mesmo? Quem garante que não somos todos marionetes? Ou pior ainda, quem garante que não somos apenas resquícios da continuidade caótica que foi o Big Bang? A gente acha que pensa, a gente acha que cria, a gente acha que ama, mas no fundo somos apenas átomos se chocando de maneira desordenada.
Essa caneta escrevendo meus pensamentos, por exemplo. São rabiscos aleatórios com um significado convencionado, e ainda assim fazem-me acreditar em alma, em arte, em infinito. Apenas sujeira caindo em pedaços de árvore morta. Nada mais.
Tudo bem, eu tenho que concordar que algo está acontecendo, mas até aí nem você, nem o Papa, nem Stephen Hawkin sabe com certeza. E nós nunca saberemos com certeza.
Você consegue encontrar uma explicação plausível pro dinheiro e para tudo que ele envolve? Vamos, pense... Toda a noção do se humano de valor, de poder... Tudo é convencionado. Tudo é apenas uma grande metáfora dessa confusão que é a existência humana. Aliás, toda a existência medíocre do universo é extremamente confusa, ou como diria Robert Crumb: The whole universe is completely insane!!
Disse-me Aleister Crowley que o segredo da vida está na verdadeira vontade. "Do what thou wilt" é a Lei. A verdadeira Vontade. Pode um homem confuso, vivendo num universo tão caótico ter tanta certeza do que quer e do que não quer??? Acho que hoje vou ficar com a frase do Crumb.
Cada dia que passa o ser humano parece ter mais dúvidas, mais medos. Olhe a quantidade de doenças modernas que existem: Síndrome de não sei o que, distúrbio de não sei o que lá... Doenças psico-emocionais. Doenças da alma. Como pode a alma infinita ficar doente eu não sei, mas a minha parece ficar com uma certa frequência.
Paranóia. De maneira bem superficial a pessoa paranóica é aquela que foca demais em algo que não precisa tanto. Pensam demais em um determinado assunto. Pessoas paranóicas com assaltos, por exemplo, aumentam o muro de suas casa, colocam alarme, trancam as portas, põe cerca elétrica e ficam imaginando todas as maneiras como um ladrão pode entrar na casa para impedí-lo. Pensam mais até do que o próprio ladrão e, quando chega o fatídico, o ladrão só pensou no único detalhe que a pessoa esqueceu, ou então nem pensou em nada, mas resolveu roubar a casa no único dia em que todo o sistema de segurança deu pau. Caos total.
No final, não adianta ser paranóico, pois as possibilidades são infinitas.
Eu sou paranóico com as palavras. Eu acho que elas devem transmitir os pensamentos com exatidão e serem bem compreendidas pelo receptor. Enquanto escrevo em meu caderno com o intuito de desabafar, já vou imaginando em como passar esse texto para o fotolog, e como as pessoas iriam ler e o que essas pessoas entenderiam do que eu escrevi. E agora que estou no computador, eu ajusto o texto aqui, mudo um pouco ali, sempre pensando em quem vai ler. A mensagem em si perdeu o sentido, ganha agora sentido o veículo, ou seja, se a mensagem é bem passada.
Parando pra pensar agora vejo que sou fruto da indústria cultural mesmo. Assim como uma propaganda, o conteúdo do meu texto não tem a mesma importância do que atingir a pessoa que está lendo. Eu me preoculpó muito mais se você vai se sensibilizar, entender, concordar ou aceitar o que eu estou escrevendo do que o que consta nessas palavras. Paranóia. Pensar demais sobre um assunto que no fim é meramente caótico.
Não é o dinheiro, não é o poder, não é a concepção de alma, arte ou infinito. É acreditar que se vê o mundo com maior clareza do que as outras pessoas e tentar explicá-lo à elas. É loucura, é paranóia... Mas pode trazer dinheiro, fama e alma.
Perdoem-me se pareço saber demais, ou se finjo saber demais. É que eu já processei muita informação nessa vida e tenhom uma memória razoavelmente boa.
Agora, se eu quisesse falar apenas uma verdade na minha vida, apenas uma certeza, é que o ser humano não faz idéia do que realmente está acontecendo mas finge o contrário para dar um sentido à sua vida.
A gente morre de medo da morte, por isso precisa acreditar em algo para continuar vivendo...
Dá pra acreditar???????????????
Talvez o Crumb esteja certo mesmo...
Algumas outras frases do Crumb:
"I feel that my work is but a feeble expression of something that in itself is vague and doubtful ... Sometimes when I probe myself I find that my intentions in art aren’t as sincere as they should be...I realize that I’m fairly good at drawing, but you see that’s only because I’ve done so much of it, and it seems sometimes that the only reason I have stuck at it so diligently is because I have to sort of get even with society for not accepting me ... Subconsciously I want to make myself immortal among men, leave my mark on the earth to compensate for social inadequacy ... So I draw ... If I got rid of my greatness complex I probably would lose my desire to draw. It seems to me that a true artist is a man who is passionately in love with line, form, color or some aspect of life ... While these things appeal to me, I don’t find any real burning passion for them within myself ... The only burning passion I’m sure I have is the passion for sex ... "
"My work is full of sweating, nervous uneasiness, which is a big part of me and everybody else. Most people don’t want to see that though, because it reminds them of inadequate parts of themselves. "
"The whole universe is completely insane!! "
"At least I hate myself as much as I hate anybody else. "
"Nobody understands. And of course, how could they? "
"Though I might be very fond of particular individuals, humanity in general fills me with contempt and despair. I hate most of what passes for civilization. I hate the modern world."
E alguns sites para seu maior compreendimento desse universo caótico:
http://www.crumbproducts.com/ - Produtos do Crumb
http://rcrumb.net/ - Página do Crumb
http://www.blueseveryday.blogspot.com/2007/05/robert-crumb-blues.html - Crumb e o Blues
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aleister_Crowley - Descrição wiki do Crowley
http://www.insite.com.br/art/pessoa/misc/crowleyenct.html - Crowley e Fernando Pessoa
Originalmente publicado em http://fotolog.terra.com.br/verbo01:20 - 04/10/2007 15:56
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