domingo, 7 de agosto de 2016

Das aleatórias questões da vida

Tive vontade hoje de escrever à caneta, no meu caderninho, como fazia antigamente, mas não faria sentido. Meu caderno está enterrado, empoeirado, debaixo de caixas e lembranças que há tempos não são revolvidas e este blog tornou-se o novo diário.

Tanta coisa mudou e tanta coisa permanece estática. 

Sofro sozinho hoje uma dor que me persegue através dos séculos, independente de que forma me encontre. Viro no gargalo a garrafa de sakê que algum outro morador da pensão tomou escondido achando que eu não ia perceber. Maldito. Me faltarão esses goles roubados hoje.

Até meu baseado chora pela falta de seda, que esquecidamente não comprei, obrigando-me a desfazer um velho cigarro de palha que sentava-se a minha escrivaninha há alguns meses.

Paciência.

A maior das virtudes que preciso aprender. Saio de um trabalho e já entro em outro pra conseguir ganhar meus trocados e ainda assim não me sobram mais do que pequenos prazeres efêmeros.

Desfaço o baseado e coloco a erva num cachimbo. Queima rápido mas funciona melhor. A garrafa quase no fim me deixa puto. Tomaram quase metade do que tinha. Como posso me lamentar sem uma boa dose de álcool para combustão da dor? Dor essa que carrego há séculos.

Será que um dia encontrarei a paz ou será que ser atormentado é parte do papel que estou criando pra mim? Serve bem a um diretor de cinema, já que esse é o caminho escolhido. Só não me disseram que era duro assim. Me vejo paranoico com o tempo, o que é perigoso.

Sempre acho que as orgias ocorrem nas festas que não vou, com as garotas que não prestei atenção. Parece real. Tão mais fácil seria ser um campeão popular, seguir as linhas e abraçar a mediocridade. Mesmo dentro do cinema que permite uma vida de loucuras me sinto acuado. Onde está aquela segurança implacável que vivi na minha juventude? Aquela vontade de tocar um foda-se no mundo e não se afetar com a opinião alheia.

Aquele brio que me fazia lutar incansavelmente? To fight the unbeatable foe... Deixo me pisarem, deixo me enganarem, deixo me machucarem... Só para evitar brigar. Isso não é equilíbrio. Isso não é quem eu sou.

QUEM EU SOU? Quem sou eu pra saber?

Dou um último trago, e você não sabe se de sakê ou de baseado.

Sorte que não tenho cocaína em casa. Pobre droga marginalizada. 

Cansei-me de me preocupar, mas não me vejo sem tomar o higher path. Como faço pra ser melhor sem me achar melhor que ninguém? E porque não me acho melhor do que aqueles que são menores mesmo? Por que eu sempre tenho que achar o pior, sendo tão otimista como sou? Será que toda vez que eu ver um pop-up enlarge your penis eu vou medir o meu pra ver se ele não está diminuindo com o passar dos anos? Será que toda vez que alguém fizer um comentário homofóbico eu vou me fingir hétero? Vai ver eu fico evitando certos rótulos por medo de eles me definirem.

Estou em processo de cura. Precisaria me afastar e me trabalhar lenta e calmamente. Só que estou constantemente preso na batalha da vida. Pagar contas só pra começar. Matar vícios pra terminar.

Como faço pra ser tão diligente e disciplinado ao ponto de terminar algo com a mesma maestria com a qual começo?

Como posso ainda estar questionando essas coisas com 34 anos?

Fuck

Até Los Hermanos começou a tocar no rádio. Um nada virou uma fossa. Uma inveja das histórias de grandes amigos. Histórias que queria ter vivido, mas não consigo. 

Preciso me curar, mesmo nessa tormenta.

"Fiz meu berço na viração. Eu só descanso na tempestade, só adormeço no furacão".

Falta Tom Zé na vida das pessoas. Falta maldade na minha vida.

Chega