sábado, 15 de maio de 2021

Quando o remédio para de fazer efeito...

 Quando foi que nos tiraram o direito de ser tristes? Quando foi que o mundo passou a acreditar que a vida cabe dentro das mentiras das redes sociais e tudo que se fabrica para os olhos de terceiros precisa ser intenso êxtase eterno?

Eu quero mais do que essa vida cheia de coisa vazias. Eu quero poder mergulhar de cabeça na realidade de outras pessoas. Naufragar nesse universo inexplorado das verdades por trás dos sorrisos, dos pesares de fora do quadro, da tempestade por dentro dos solitários.

Quero chorar apenas. Chorar as mágoas de todas as vidas que vivi e as que ainda estão por vir. Chorar pela falta de liberdade que o homem impõe a si mesmo. Chorar pela dor de cada perda e de cada abandono. Chorar por algo que de tão belo rapidamente chega a seu fim. Chorar por todo o potencial desperdiçado, tanto por livre arbítrio quanto por imposição. Mas a imposição sempre me dói mais.

Não entendo porque ainda é preciso vivermos nessa loucura que a sociedade se encontra. O que mais é necessário entender? O que mais é necessário explicar? Como posso uma pessoa como eu, que fez tudo que eu fiz, que viveu tudo que eu vivi, ainda precisar estar lutando para ter o mínimo, que é viver. Como podem as pessoas acharem normal trocar a vida por um emprego que te paga menos do que vale a sua vida, e ainda assim achar que pagam muito. Eu não entendo. E eu sofro por isso. 

Mas esse choro não me sai. Esse choro está entalado e quanto mais eu tento descreve-lo, mais eu pareço ser um menino mimado, que não está satisfeito com o que tem, que precisa fazer birra sempre que não tem o que quer.

Talvez seja verdade, não sei. Mas sei que o que eu quero não é pedir muito. Sou grato por tudo que tenho, não entenda mal. Sei muito bem que tive mais sorte na vida do que muita gente. Do que a maioria das pessoas, talvez. Por que então não consigo encontrar a paz? Por que sou obrigado a passar o resto da minha vida buscando algo aparentemente inatingível? Como posso eu ficar feliz apenas com opções tão extremas, o oito ou oitenta, que seria de um lado encontrar a iluminação e transcender e do outro lado abandonar tudo isso e simplesmente ser feliz com o que sou hoje.

Mas não existe meio termo. Eu quero sempre mais. I can't get no satisfaction. E estou cansado de tentar. Queria poder chegar em um momento da vida onde eu poderia só administrar minhas conquistas e ir evoluindo com calma, tranquilo. Mas não, eu ainda tenho que lutar pelo osso de amanhã e vivo numa constante aposta de tudo ou nada. 

Não tenho descanso, pois tenho muito o que conquistar ainda. Não tenho felicidade, pois tenho muito o que conquistar ainda. E não aproveito minhas conquistas, pois tenho muito o que conquistar ainda. 

Por que infernos eu desejo tanto? E por que ao colocar no papel, parece tão pouco? Parece algo que eu já deveria ter conquistado. Parece justo que eu conquiste. Parece que eu mereço.

E, por deus, eu sei que eu mereço. 

Poderia apenas vir mais rápido. O meu lugar ao sol. 


domingo, 1 de setembro de 2019

Moby Dick

Trinta e sete e vivendo em Vancouver. A vida não poderia estar melhor e mesmo assim, ainda me açoito no espelho. Tudo bem, é normal. O processo de cura é longo. Vi aqui no blog que já dura ao menos 4 anos. Quem dera fôssemos mais simples.

Hoje senti uma ansiedade que há algum tempo já não sentia. Diferentemente da depressão, que chega de mansinho e te puxa pra correnteza, a ansiedade chega na voadora, diretamente relacionada a algum gatilho ex(in)terno. No meu caso foi a ação equivocada (ou melhor dizendo, a falta completa de ação) justamente quando me encontrei frente a frete com minha Moby Dick. Estava lá, na minha frente, a baleia branca que há tantos anos procuro nos lugares errados, mas que veio nadar nas águas calmas da minha solidão.

E eu simplesmente não entrei na água. Ela tentou chamar minha atenção uma, duas, três vezes... E eu inepto, alienado do universo em meu redor. Moby Dick olhou-me dentro dos olhos, mas eu não tive coragem de olhar de volta. Apenas fingi não tê-la visto da mesma maneira que ela me viu. O chamado da aventura desperdiçado.

Trabalho. Essa é a desculpa. Virei-me pro lado para resolver os milhões de problemas que o sistema capitalista impõe na minha vida como se isso fosse desculpa suficientemente plausível. E era. E ela se foi.

E segundos depois eu já sentia sua falta. Olhava para o mar na esperança de ver se ela ainda estava lá, se ia voltar para me ver, se ao menos houvesse errado o caminho e passasse de novo na minha frente indo ao lado oposto. Nada. Passei à noite olhando o mar e nada.

estou em casa. A garrafa de sakê minha única companhia. E um Led Zepelin melancólico tocando no fundo, se é que isso é possível.

Ramble on!



quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Sinais de Depressão

Ela
Ela segue
Me persegue
Apenas espreita
Na minha cama deita
E não me deixa levantar
Abraça forte me sufocando
Me ama assim, todo esgotado
Apagado, invisível, desesperado
Sem forças nem para dizer: Chega
Como não a percebi se aproximando?
Como pude acreditar que estaria seguro?
Mesmo fugindo por milhares de quilômetros
Ainda assim ela conseguiu me encontrar
E no meu corpo conseguiu fazer seu lar
Se escondendo atrás de cada esquina
No fundo do copo da minha bebida
Na escuridão da minha alegria
No caminhar de cada milha
Em cada pequena ferida
Me fazendo sua ilha
Como guilhotina
Sendo minha
Única cria
Falida
Vida
Ida
.

domingo, 25 de março de 2018

Crítica sobre a série "O Macanismo", de José Padilha




Acabei de assistir “O Mecanismo” do Padilha. Provavelmente vou receber críticas ao expressar essa opinião, especialmente dos meus companheiros da esquerda, mas senti a necessidade de escrever. Paciência.

Gostaria de começar separando técnica de ideologia. Por ser profissional do cinema, presto muita atenção no primeiro ponto e não acho justo deixar minha ideologia ou a do Padilha distorcerem a técnica aplicada. Sei que tem muita gente, inclusive diversos amigos, que me falam que a ideologia é mais importante. Em outras palavras, que eu não posso achar genial um filme feito por um babaca. Que não é possível separar a obra do autor e deve-se assistir de maneira crítica todo o conjunto. Como comunicador, compreendo e sou crítico à responsabilidade aferida a qualquer outro comunicador. Entendo que o poder da mídia deve ser usado para um bem universal e não para manipular opinião pública. Entendo que as pessoas não podem falar o que quiserem sem serem responsabilizadas por sua fala. E entendo também que gosto é uma coisa pessoal e que não tem nenhum problema você deixar de gostar da obra de uma pessoa por ter deixado de gostar daquela pessoa especificamente.



Eu infelizmente não consigo ser prático assim com essa facilidade. Para citar exemplos polêmicos, adoro os filmes do Polanski e do Woody Allen, e ninguém vai conseguir me convencer que o Kevin Spacey não é um puta de um ator e eu adoro ver filmes com ele. House of Cards era uma de minhas séries prediletas.

Isso não significa que eu não pense que cada um deva ser devidamente punido pelo que fez. E compreendo inclusive como as táticas de boicote surtem efeitos nos dias atuais, onde a lógica do mercado é que manda em tudo. Ainda assim, gosto dessas obras e, me desculpem, mas se eles fossem presos e acabassem fazendo um filme dentro da prisão, eu ia querer assistir.


Pesado né? Paciência. A vida anda bem confusa ultimamente mesmo.


Por mais que eu reconheça não compartilhar das mesmas ideologias e/ou não defender nem apoiar crimes cometidos por essas pessoas, não consigo dizer de cara lavada que o trabalho deles não é de boa qualidade. Ou ainda, que eu não gosto de suas obras. Me negar isso talvez seja tão ignorante como o que acontece no extremo oposto do espectro político, onde por exemplo um bando de boçais diz que a música de Chico Buarque é ruim por causa da ideologia dele. Você pode não gostar da música, nem da ideologia, mas achar que o cara é ruim, que a obra dele não merece respeito. Sei lá... Me parece que é um caminho de desumanização muito extrema.

Mas então, dito tudo isso, vamos ao ponto.


Eu gosto dos filmes do Padilha. Gostei do ônibus 174, gostei dos dois Tropa de Elite, gostei do Narcos, gostei até do Robocop. E gostei também do Mecanismo. Terminei agora e fiquei com vontade de ver a próxima temporada.


Estou falando de técnica, de entretenimento, de produção de cinema. Depois falo de ideologia.


A série é bem feita. É uma série policial, com menos ação do que eu esperava, mas ainda assim interessante. Mostra o olhar do policial “herói”, incorruptível, marginalizado mas que triunfará pela força de vontade. Fórmula essa de grande apelo popular nos filmes americanos e que renderam muito sucesso à Padilha nos Tropa de Elite. Pra quem gosta desse tipo de filme, vale por entretenimento. Sobre estética de recorre a um narrador o tempo todo me cansa e não gosto muito, mas é uma marca dele, que ele gosta de usar. Nem todo mundo gosta do Tarantino meter cartelas e dividir o filme em capítulos, mas é marca dele, ele gosta de usar. Também não gostei da mixagem de áudio em geral. Tive muita dificuldade de entender os diálogos em alguns momentos, precisando deixar o volume bem acima do que costumo ouvir. De resto, tenho algumas críticas a cenas específicas, mas nada que me fizesse achar tão ruins que teriam estragado a série. De maneira geral, é uma série boa. Não é a melhor, mas também não é a pior.


Enfim, ideologia e posicionamento.

Apesar de gostar dos filmes do Padilha, não gosto nada do posicionamento político nem da ideologia que ele defende. Há tempos critico o posicionamento dele pelo viés direitista, especialmente de uns anos pra cá quando ele começou a adotar esse discurso “apolítico”, de que “nenhum presta” e que tenta deslegitimar a luta de quem busca melhorar o país através das vias democráticas, posição essa que a direita e a extrema direita em especial adoram.

Achei que no começo da série ele realmente se esforçou pra tentar ser neutro. Não podemos nos enganar achando que o único propósito dele é seguir a agenda. Ele obviamente também quer lucro, quer sucesso, quer continuar trabalhando como diretor internacional e pra isso é óbvio que ele iria tomar certos cuidados pra que a série não fosse puramente propaganda. Utilizar nomes fictícios e abrir a série com uma declaração de que se tratava de uma obra de ficção foi um bom começo, na minha opinião, apesar de logo percebermos que não foi honesto. Focar nos investigadores da polícia como personagens principais também foi muito inteligente, pois tira o protagonismo de certos “famosos” que apenas se beneficiariam da babação de ovo. Infelizmente, mais uma vez, com o passar dos episódios também fica perceptível que era algo só pra inglês ver.

Essas duas premissas adotadas por ele, apesar de serem utilizadas para defender ideais que eu não compartilho, certamente foram estratégias inteligentes pois abrem espaço para criar situações e diálogos que não temos como saber se ocorreram de verdade. Sendo uma obra de “ficção” ele pode tranquilamente utilizar esses espaços para disseminar sua ideologia. Mais uma vez, não concordo com a ideologia, mas ele é livre para acreditar e utilizar em sua obra.

Aí então, começam os problemas sérios, quando ele pega fatos reais, que temos conhecimento de como aconteceram, e distorce ou altera descaradamente para afirmar sua ideologia. O pior dos casos, que já está sendo falado por toda a internet, foi ele ter colocado a fala do Jucá (estancar a sangria em um grande acordo) na boca do personagem que simula o presidente Lula. Quando eu vi, me decepcionei imediatamente. Achei de um mal gosto, uma falta de caráter tão grande que quase parei de ver ali mesmo. Querer dizer que todos são iguais, já é ruim, mas menos pior seria se colocasse na boca de um outro personagem qualquer. Melhor seria se nem usasse a frase. Mas pegar a prova máxima da linha de pensamento do golpe e colocar na boca da pessoa que mais tem sido atingido pelo próprio golpe, foi baixo demais. Sem palavras.

Outro ponto que me incomodou demais foi ter colocado o advogado do personagem que representa Alberto Yusef como o responsável dos vazamentos da delação para a mídia, em especial a Veja, quando todos sabemos que desde o início o juiz Sérgio Moro acredita (inclusive por escrito) que deve se usar o poder da mídia e da opinião pública para fortalecer um caso e conseguir driblar certos impedimentos legais no trânsito do processo.

Em resumo, pegar a frase do Jucá e colocar na boca de Lula (que é apresentado como vilão) e pegar a estratégia do Moro e colocar nas mãos do advogado do Yusef (que é apresentado como vilão) não é ser imparcial, e muito menos coincide com a ideia de que nenhum presta. Ele, de maneira indecente e injusta, separou os bandidos dos mocinhos deixando de lado o discurso de que o mecanismo afeta a todos, que é justamente o que a série finge defender. É inocente achar que só o PT foi corrupto, da mesma maneira que é inocente achar que Sérgio Moro não tem partido, da mesma maneira que é inocente achar que existem soluções milagrosas, ou que existem pessoas exclusivamente boas ou más, ou ainda que seja possível prever como determinada pessoa vai reagir em determinada situação porque as pessoas “nunca mudam”. O ser humano é muito mais complexo do que isso.

Tendo pontuado essas questões (houveram mais algumas que não me recordo no momento, mas essas duas foram as mais fortes), gostaria agora de falar sobre a crítica que a série faz sobre o tal do “Mecanismo”, que nada mais é do que a regra máxima da corrupção no Brasil, que vai desde Brasília até as pequenas hipocrisias do dia a dia. Sabemos como funciona o jeitinho brasileiro. E sabemos que muitas vezes somos obrigados a compactuar com esse tipo de situação por nos faltar uma outra escolha. Na série o Padilha mostra isso de maneira bem direta, quando o personagem do Selton Melo tem um problema na rede de esgoto. Ele, como herói da série, é incorruptível e resolve o problema com as próprias mãos. Mas ele é um personagem de ficção e na vida real sabemos muito bem como na maioria das vezes, mesmo que a gente ache uma injustiça gigantesca, nem sempre temos a força necessária para lutar e acabamos pagando, aceitando ou simplesmente sendo oprimido e perdendo pro “Mecanismo”.

A crítica é interessante. Realmente essa cultura faz mal para o país e mesmo as pessoas que são vítimas e acabam cedendo, não aguentam mais compactuar com esse tipo de coisa. O problema é que se trata de uma questão cultural e não física, como a série tenta nos mostrar. Digo isso pois a meu ver, se interpretada de maneira literal, as pessoas podem passar a achar que o sistema democrático precisa acabar pois nele se encontra o mal do mundo. E já temos pessoas que pensam assim, e sabemos o quanto isso é perigoso. Se entendermos como uma questão cultural, a única saída, que tanto direita quanto esquerda concordam pelo menos de maneira mais abrangente, é melhorar a educação em todos os âmbitos e em todas as cidades do país. Só assim acabaríamos com esse mecanismo. Querer acabar com as eleições, querer colocar um interventor, querer a solução milagrosa, é a pior opção que temos no momento.

Por fim, gostaria de destacar que defendo que pessoas com posicionamentos contrários aos nossos tenham o direito de se expressar em meios artísticos e de entretenimento. Cabe a nós denunciar situações como essas que citei acima, mas ter um pensamento contrário e expressá-lo não é crime.

Infelizmente, não deixa de ser um grande ataque a ideologia de esquerda e aos ideais que acredito. Certamente essa estratégia de agir como “série de ficção baseada em fatos reais” vai manipular muita gente a acreditar no discurso que ele inventou ao mesmo tempo que o protege de estar caluniando ou mentindo. Ataque forte e duro que acho que deve ser revidado. Não tenho nada contra quem não quiser assistir, quem quiser protestar, quem achar que deve fazer boicote etc. Mas mais do que isso, acho que devemos sempre e sem medo, levantar nossas bandeiras com orgulho e defender nossos ideais da mesma forma, expressando nossa visão sobre tudo isso, especialmente nos meios de entretenimento.

Logo mais sai o filme do Marighella, que vai ter uma força imensa e servir de contraponto ao discurso da criminalização da esquerda. Curiosamente dirigido pelo Wagner Moura, que possui um posicionamento completamente oposto ao de Padilha, mas que souberam trabalhar juntos de maneira profissional.

Devemos encher as salas de cinema, canais de televisão e internet com obras que contem o nosso lado da história e defendam a nossa ideologia. A direita tem feito isso frequentemente, por exemplo com o filme “Polícia Federal: A Lei é para Todos” (que possui grande valor de produção com gordo orçamento, mas com um roteiro pífio e extremamente propagandista) e o filme “Real – O Plano por Trás da História” (que é bem ruinzinho em diversos sentidos). A esquerda tem história e sempre teve força na produção de conteúdo audiovisual. Precisamos resgatar esse sentimento e fazer mais e melhor do que eles. Sem precisar recorrer a mentiras e distorções como feito nessa série, mas com força, orgulho e defendendo a verdade!

Dia Internacional da Mulher

* Originalmente publicado em 8 de março de 2018


Dia internacional da mulher, pra mim, não é dia de flores, não é dia de parabéns, não é dia de pagar de isentão. É dia de reflexão.

A data, apesar de muitos esquecerem ou nem saberem, é marcada pelo dia em que 130 trabalhadoras de uma tecelagem em Nova York protestavam através de uma greve e, como resposta, foram trancadas e incendiadas na própria fábrica onde morreram carbonizadas. Hoje, quase 200 anos após essa tragédia, as mulheres ainda precisam lutar com unhas e dentes para serem respeitadas, para serem tratadas com dignidade, para não terem medo de andarem na rua. Ainda mais em épocas onde ideias machistas parecem tomar cada vez mais espaço na internet e até na política.

Pra nós homens que temos um mínimo de esclarecimento, é fácil falar sobre os direitos das mulheres, sobre a necessidade de que elas tenham igualdade, sobre como somos contra a violência diária pela qual elas são submetidas pela sociedade. Difícil mesmo é identificarmos os traços do machismo que ainda carregamos em nós, mesmo que inconscientemente, por toda a carga depositada em nós através dos séculos.

Sempre me considerei uma pessoa consciente, apoiador do movimento feminista, de pensamento progressista e mente aberta. E ainda assim acabei me colocando em uma situação de abuso onde, pra minha surpresa, eu era o opressor. 

Estava em uma festa no ano passado com amigos, completamente bêbado. Achei que estava rolando um clima com uma amiga que na verdade era apenas uma amiga. Chamamos um táxi pra comer um lanche e eu tive a infeliz ideia de mandar o táxi pra um motel ao invés da lanchonete. Ela estava muito bêbada também, e quando viu onde estávamos, teve um ataque de riso. Falou que não acreditava que eu tinha levado ela o motel, que não ia rolar nada mas que como estava com muita fome, que comêssemos o lanche ali mesmo. Eu, ainda infeliz, achei que se ela estava rindo é porque estava gostando. Entramos, comemos o lanche, ela mais uma vez deixou claro que não ia rolar nada. E não rolou nada. Dormimos ali mesmo.

No dia seguinte, já sóbrio, tentei esconder minha vergonha com piadas. Acho que até fiz piadas demais, pois o clima ficou estranho. Fomos embora, cada um pra sua casa. Horas depois, recebo uma mensagem dela, sóbria também, me explicando o tamanho da cagada que eu tinha feito. Basicamente ela falou o quanto havia se ofendido com o fato de eu ter levado ela pro motel sem ela não ter dado nenhuma indicação que era isso que ela queria, ou mesmo sem eu nem ao menos ter perguntado pra ela o que é que ela queria. Disse que só entrou no motel porque muitas vezes não se sentia à vontade de dizer não, porque não queria ser julgada, porque por estar bêbada não sabia se de repente havia me levado a pensar que era isso que ela queria, e que na hora se sentia culpada e não queria ofender um amigo... E que ela se sentiu mal com tudo isso e se sentiu culpada com tudo isso e que não cabia a ela carregar essa culpa. E que, fim da história, depois de uma festa ótima e de muitas risadas, eu havia feito ela se sentir mal.

Aquilo foi pra mim como um soco no estômago. Até então eu estava vendo tudo apenas como uma história louca de bebedeira, jamais como uma ofensa. Repassei tudo o que tinha acontecido e percebi que ela tinha razão. No fundo, a verdade é que ela deixou rolar coisas que não se sentia à vontade pra não ofender um amigo e eu ofendi uma amiga porque queria transar. 

Pedi desculpas, de mil maneiras, mas nenhuma suficiente pra tirar a ofensa de dentro dela ou a culpa de dentro de mim. 

Espero que ela não se ofenda lendo isso. Provavelmente os fatos colocados sob a ótica dela sejam até diferentes do que eu escrevi. E se pisei na bola de novo, é porque estou tentando crescer, estou tentando progredir. Já me é fortuito demais o simples fato de ela me considerar amigo o suficiente pra falar onde eu errei. Muitas pessoas apenas se afastariam.

E sei que muitos dos meus amigos devem estar lendo isso e achando que não foi nada demais, que não houve abuso propriamente dito, ou que eu não deveria ter me sentido mal pois não agi com maldade. Pois é, amigos. É justamente esse tipo de pensamento que eu tô tentando me livrar.

Então, afinal, 8 de março, dia internacional da mulher, só tenho duas coisas a dizer. Mulheres, por favor continuem lutando. Homens, temos muito que aprender.


terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Manifesto do Cineasta


Começando o ano definindo-me e reassegurando-me de minhas decisões. De tempos em tempos é bom se questionar. Se necessário, mudar o percurso, caso contrário, pisar fundo no acelerador e seguir em frente. É o que estou fazendo agora. 

Abaixo um pequeno manifesto que escrevi, após um ano de reflexão e um fim de ano cheio de meditação e espiritualidade.


Que 2018 venha com tudo o que tem pra nos oferecer e que as oportunidades sejam bem aproveitadas.


MANIFESTO DO CINEASTA

Eu sou Cineasta pois entendo o Cinema como o zênite da expressão criativa do mundo moderno. Através dele eu sou capaz de tocar o coração das pessoas criando filmes de magnífica beleza e profundo significado. Esses filmes, como toda obra de arte, auxiliam a sociedade a melhor compreender o mundo em sua volta, ao mesmo tempo que fornecem ferramentas para que cada um possa moldar a sua própria visão de realidade.
Em troca, eu busco apenas o merecido reconhecimento. Uma busca que não é fácil, mas que é alimentada pela nobre ambição de fazer justiça ao esplendor da arte através dos tempos.
E justamente por ser Eu um artista sério, estou disposto a renunciar diversos aspectos da minha vida que considerava importantes, a fim de alcançar esse sonho em toda sua plenitude, exatamente como fazem os personagens dos meus próprios filmes em busca de sua apoteose.

Do fundo da minha alma até o universo infinito, com o peito aberto e o coração tranquilo, todo dia me crio, Cineasta.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

All work and no play makes Jack a dull boy



2016 foi um ano estranho. Nem estou falando de todas as merdas que rolaram no coletivo, mas da minha vida mesmo.

Das 52 semanas do ano, trabalhei 48. O que pra quem costuma trabalhar em média 12 ou mais horas por dia, é bastante coisa.

Nunca trabalhei tanto e nunca ganhei tanto dinheiro. Apesar de não ser uma fortuna, paguei todas as minhas dívidas e entrei em 2017 com dinheiro na poupança.

Em contrapartida

Assisti apenas 48 filmes, comparado à 100 em 2015 e 140 em 2014.
Li apenas 3 livros
Não fiz nenhum curso ou estudei por conta própria
Não escrevi nenhum novo roteiro
Transei muito pouco
Não fui a nenhum museu ou galeria de arte
Não brinquei com meus cachorros por mais de umas horas
Não tive tempo nem pra meditar

All work and no play makes Jack a dull boy
All work and no play makes Jack a dull boy
All work and no play makes Jack a dull boy



Que 2017 seja o ano do equilíbrio