quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Hallowed Be Thy Name

Hoje me sinto assim, como nessa música, apenas esperando o capataz me levar à forca. 

Sensação estranha essa, já que a forca é apenas uma figura de linguagem que nesse caso representa algo que eu tenho perseguido nos últimos anos de minha vida. Uma boa oportunidade de trabalho.

Engraçado isso. Não tenho como dizer não. Vão pagar o valor que eu quero, vou poder trabalhar da minha cidade, sem precisar ficar indo e voltando de São Paulo, vou poder inclusive sair no meio do trabalho para um compromisso de 11 dias e depois voltar como se nada tivesse acontecido, sem problema nenhum.

Na verdade, todos os empecilhos que eu coloquei na frente do trabalho, meus contratantes aceitaram e disseram que ainda assim querem que EU execute o mesmo. Sem contar o networking que sempre é interessante.

Então, porque diabos estou me sentindo como se eu estivesse vendado esperando o fuzilamento? Que merda é essa?

A verdade é que estou cansado.

A verdade é que precisava de um tempo pra mim. E não tenho esse tempo.

Na verdade não tenho tempo pra mim há um bom tempo. Se não é trabalho, é família. Se não é família é emergência. Sinto como se tudo na minha vida eu fosse obrigado a fazer, nada é por que eu quero. Não que eu não goste das coisas que eu faço, pelo contrário. Sou muito privilegiado. Trabalho com cinema em um país em que a produção é extremamente fechada, onde os fracos não tem vez. Mesmo quando a tarefa requer mover montanhas, a satisfação de ver o trabalho realizado, finalizado, é enorme. Eu gosto disso. Mas a impressão que eu tenho é que em todo o espectro da minha vida, desde as tarefas laboriais até as coisas mais simples como regar as plantas eu tenho feito porque TENHO que fazer, não porque eu quero, porque me dão prazer. Eu estou virando uma maquininha, um robô, a cada dia me sendo roubado o livre pensamento e substituindo-o por pensamentos práticos e objetivos. 

Não que isso seja fácil também. Minha cabeça é uma fábrica de absurdos e minha criatividade vai resistir até o fim, mas isso também não ajuda pois acaba resultando em dificuldade de gerenciar corretamente meu tempo e procrastinação no trabalho.

Sinto falta daquele momento sublime, sem amarras, onde suavemente tomamos uma decisão tomada pelos ventos do prazer que o ato nos dará: Hoje eu quero fazer isso!

Seja isso o que isso for...

Mas não me vejo com essa opção a não ser que eu negue esse trabalho. A não ser que eu feche essa porta e me veja excluído desse grupo.

Tem uma coisa muito errada nesse mundo.

E eu sinto que vai me faltar coragem de tomar a atitude certa. Ou na verdade vai me faltar sabedoria pra distinguir qual a atitude certa a ser tomada antes que o tempo se acabe. A forca se aproxima. Tenho só hoje para dar a resposta.

Me desejem sorte

domingo, 15 de junho de 2014

Pensamento Aleatório #23

Não confunda as coisas!
Subverter o passado é necessário. Esquecer é perigoso.
Prender-se a dogmas e paradigmas é envelhecer.
E velhos devem morrer.

Aprenda enquanto pode. Um dia não mais o fará.
O novo virá substituí-lo. O novo sempre vem.
Qual foi o seu papel?

Contribuímos quando revolucionamos.
Do contrário, só passamos...


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Você é Burro!


A verdade é que você é burro!

Sim, isso mesmo. Você é burro! E por isso a sociedade está descendo pela privada.

Você que esteve sempre na crista da onda, na última moda, nas paradas de sucesso. Você é responsável por alimentar essa corja de sanguessugas que não se importam com o direitos trabalhistas, que preferem o lucro à vida, ou que simplesmente fazem você acordar cedo e dormir tarde por causa de um emprego que você não gosta, pra comprar coisas que você não precisa.

Burro!

Você que dá mais valor às aparências e varre pra debaixo do tapete a cruel verdade, permitiu a criação de uma sociedade que desce o cassetete no bebum da rua mas vota no ladrão engravatado. Você que prefere pagar mais caro, esbanjar e desperdiçar só pra mostrar poder, ao invés de compartilhar o sobressalente com quem nunca teve oportunidade, é o responsável pela maior parte da violência das grandes cidades.

Mas você não sabe disso, porque é burro.

Você que reprime a sexualidade das mulheres impondo morais ultrapassadas e aumenta mentiras sobre sua vida sexual pois tem medo do que os outros vão pensar. Você que se preocupa mais com quantidade do que com qualidade. Você que esqueceu que a mensagem da propaganda não era filosofia de vida. Você que aceitou viver em uma grande ilusão porque morre de medo de sua vida ser normal.

Você é Burro! Burro!

Não vê que a sociedade é hipócrita? Não vê que por trás desse véu somos todos iguais, com problemas, tristezas, medos e desilusões? Percebe quantas pessoas em sua volta sofrem de depressão apesar de terem vidas extremamente sadias? Percebe que o fato de você ter sido pisoteado não significa que é necessário pisar em outros para subir?

Não? Não percebe nem que subir depende do referencial. Pois é burro.

Burro! Pois como um burro tem a visão tapada e nada mais faz além de puxar carga.

Pode comprar seu carro importado, pode virar diretor-executivo. Não são suas conquistas que eu desprezo, são seus valores que estão invertidos.

Seus não, de toda a sociedade. E você é burro por não perceber.

Vai lá protestar. Vai lá me xingar. Vai lá que eu tô muito bem do lado de cá. Continue achando que está correto ao receber migalhas de bonificação. Continue achando que esse vazio indescritível que assola seu travesseiro vai passar sem que você precise mudar de atitude.

Depois, daqui a algumas gerações, quando a merda estiver voando na sua cara e você não tiver para onde fugir, não fique surpreso. São as suas ações e escolhas que colocaram o planeta na trajetória do ralo.

Foi a sua falta de educação que acabou com a educação dos seus filhos, que conseguiram ser ainda mais burros que você, invertendo a corrida evolutiva.


Infelizmente.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Dois Longas, Dois Textos

Mais um exercício. Dessa vez tenho que contar a história do filme inteiro prestando atenção na estrutura de 3 atos da dramaturgia. Para isso montei primeiro uma escaleta com os pontos que a professora do curso destacou. Deixei a escaleta no final do texto para consulta.


Foram dois filmes escolhidos, Hair e O Vingador do Futuro. Caso não tenha visto algum deles, SPOILER ALERT, eu escrevo a história inteira, inclusive o final. Então leia com moderação.


Vale a pena destacar que o Hair eu assisti novamente antes de escrever, já O Vigador do Futuro eu li o roteiro e me baseei apenas nele (e nas lembranças de quando via o filme na Tela Quente).

Hope you Enjoy!
  

CURSO DE ROTEIRO FALMOUTH UNIVERSITY COLLEGE


Exercício 2
Escrever sinopse completa, em 500 palavras, sobre dois longa-metragens

HAIR

Hair é um clássico entre os musicais por ter representado uma quebra de paradigmas no que se acreditava ser sucesso na Broadway até então. O filme veio alguns anos depois, pelas mãos do grande diretor Milos Forman.

Trata-se da história de Claude Hooper Bukowsky, um jovem de Oklahoma, interior dos Estados Unidos, que é convocado pelo exército americano para lutar no Vietnam. Antes de se alistar, Claude pretende passar dois dias em Nova York para fazer passeios turísticos mas acaba se encontrando com um grupo de hippies que lhe apresentam o movimento, assim como suas ideias libertárias, seus conceitos de amor-livre e o uso de diversos tipos de drogas.

Claude, durante um passeio no Central Park, acaba conhecendo e se apaixonando por Sheila, uma garota da alta sociedade nova-iorquina com um leve interesse pelo movimento hippie e por tudo aquilo que contraria a vontade de sua família.

Após uma noitada de muitas drogas e diversão, Claude se despede dos amigos hippies e pretende seguir seu caminho quando um deles, Berger, vê que Sheila estaria fazendo aniversário naquele mesmo dia, em uma festa grã-fina na casa de seus pais. Berger convence Claude que antes de ir pra guerra ele deveria tentar com todas as forças conquistar Sheila e, assim, ele e o grupo invadem a festa.

Colocar um grupo de hippies em meio a uma festa classicista da década de 60 é ingrediente mais que perfeito para uma grande confusão e, depois de subir na mesa de jantar para cantar e dançar sobre a vida, os amigos são todos enviados para cadeia.

Claude, relutante, confia a Berger 50 dólares para pagar sua fiança, com a promessa que este conseguiria mais dinheiro para resgatar os amigos. Após algumas investidas Berger consegue e todos eles vão comemorar no Central Park, onde uma grande manifestação está ocorrendo juntamente com a distribuição de LSD, que faz Claude viajar intensamente.

No fim daquela dia, os amigos decidem dar um mergulho no lago. Vendo um clima se formando entre Claude e Sheila que nadavam seminus, eles resolvem pregar uma peça e esconder as roupas do suposto casal. Sheila acha a brincadeira de extremo mal gosto e foge de taxi do local. Claude se desentende com Berger e decide, pontualmente, que a melhor escolha para si é se alistar no exército.

Alguns meses se passam e Sheila recebe uma carta de Claude, que se encontra em um quartel em Nevada. Berger decide que ele e os amigos iriam atravessar o país para encontrar o velho amigo e convidam Sheila pra vir junto, que acaba topando.

O quartel militar se encontra em estado de alerta devido à guerra e Claude se vê impossibilitado de sair sem que ninguém perceba. Berger então se disfarça de Claude para não prejudicar o amigo enquanto esse sai escondido para fazer um piquenique com o resto da turma.

O que nenhum dos dois esperavam é que, neste meio tempo, o batalhão de Claude é enviado para o Vietnã e juntamente vai Berger, que poeticamente se sacrificou pelo amigo para que o mesmo pudesse realizar seu sonho de ficar com Sheila.


First Act
Claude vai a Nova York e conhece o mundo hippie

Inciting Incident
Claude conhece Sheila

Central Goal
Ganhar o coração de Sheila

Break into Act 2
Eles são presos por invadir a festa da Sheila

Main Piece of Act 2
Após encontro desastroso na lagoa com Sheila, Claude decide ir para o Exercito

Sub Plots
Berger conseguindo dinheiro para libertar os amigos da prisão
Lafayete tendo que enfrentar a realidade de sua esposa e filho

Break into Act 3
Vamos para o Nevada!

Conclusion
Berger se sacrifica indo a guerra para que Claude possa ganhar o coração de Sheila





O VINGADOR DO FUTURO

Douglas Quail acorda assustado após um pesadelo onde ele fugia de algo terrível, usando um traje espacial. Era um sonho com Marte, um sonho recorrente, que de acordo com sua esposa já havia virado uma obsessão. A verdade é que realmente Quail não conseguia tirar Marte da cabeça e, infelizmente, não tinha dinheiro o suficiente para pagar por um pacote turístico para o planeta vermelho.

Indo para o trabalho de metrô, Quaid assiste um comercial sobre uma empresa chamada Rekall, que oferece o serviço de implante de memórias. Como este serviço é bem mais barato do que a viagem pra Marte, Quaid decide implantar a memória de uma viagem em sua mente, para satisfazer sua obsessão. Chegando no local lhe é oferecido ainda um pacote extra de “personagem” onde Quaid escolhe “agente secreto”.

Tudo parecia correr bem quando o procedimento precisa ser encerrado devido a uma emergência: durante a gravação da memória nova os cientistas descobrem que na verdade Quaid era um agente secreto que estava em uma missão em Marte e teve falsas memórias implantadas para evitar o vazamento de informações. O procedimento é interrompido e eles tentam fechar novamente a memória de Quaid, mas aberta a brecha, não há mais volta.

Quaid começa então a ser perseguido por agentes da E.I.O. (Earth Inteligence Organization) e acaba descobrindo que até mesmo sua esposa era uma agente disfarçada. Por sorte, ele recebe uma ligação de um agente amigo indicando um procedimento de emergência para que ele havia preparado no caso de ter sua memória apagada. Trata-se de uma maleta com armas, passaportes, dinheiro terráqueo, dinheiro marciano, disfarces e um pequeno gravador com a voz do próprio Quaid passando instruções sobre o que estava acontecendo e o que ele deveria fazer para sobreviver.

Usando o disfarce e o dinheiro, ele consegue comprar uma passagem para Marte e agora ruma ao planeta vermelho descobrir o que havia de tão importante no planeta, em especial na esfinge marciana, a ponto de ter sua memória apagada pela E.I.O.

Logo ao entrar no hotel em Marte ele é reconhecido pelo atendente que lhe entrega um envelope afirmando ser de propriedade do próprio Quaid. Dentro apenas o nome de uma mulher e um endereço. É Melina, mulher por quem Quaid se apaixonou no passado comprometendo sua missão, apesar de ele não ter lembrança nenhuma disso.

Quaid, Melina e Bennie, o taxista, rumam para uma cidade. Eles contam para Quaid que fazem parte do grupo de pessoas nascidas em Marte que estão protestando por uma Marte livre enquanto Cohaagen, líder da E.I.O., ameaça cortar os suprimentos de ar e água para as pessoas serem obrigadas a se mudarem e vender suas terras.

Na cidade, encontram-se com uma espécie de marciano vudu que possui o poder de entrar na mente de Quail e resgatar suas memórias. Após uma experiência intensa, Quail se lembra de tudo, que seu nome é Charles Hauser, que ele é agente secreto da E.I.O., que ele estava no projeto esfinge e que justamente ele havia encontrado uma ferramenta alienígena dentro da esfinge capaz de mudar o planeta para sempre e que Cohaagen queria impedi-lo de contar.

Ele então, como um novo homem, certo de si, ruma com os companheiros para a esfinge, propenso a acabar com os planos de Cohaagen e salvar o planeta. No caminho, conta que a real função da ferramenta é poder alterar a atmosfera do planeta transformando-o em habitável. Ao ouvir isso, Bennie se revela sendo agente da E.I.O e luta com Quail até sua morte.

Os dois chegam na esfinge e começam a entrar no complexo, rumo ao ponto principal em uma cena de ação de tirar o fôlego, até que finalmente, depois de matar muitos agentes, eles chegam na ferramenta que é ativada por Quail. Do centro da terra a ferramenta começa a liberar oxigênio, nitrogênio e hidrogênio, permitindo que seja possível respirar sem capacete e a vida possa começar a florescer no planeta.


First Act
Douglas Quail tem sonhos recorrentes sobre Marte e fica obcecado em poder conhecer o planeta vermelho.

Inciting Incident
Quaid decide implantar uma memória de viagem a Marte, mas durante o procedimento descobre que uma viagem real à Marte foi apagada da sua memória com implantes de uma vida pacata.

Central Goal
Descobrir sua verdadeira identidade e o motivo de ter sua memória apagada. Consequentemente, salvar Marte.

Break into Act 2
Quaid encontra uma maleta com armas, passaporte, dinheiro terráqueo e marciano, disfarces e um gravador com a voz dele dando instruções de emergência em caso de memória apagada.

Main Piece of Act 2
Quaid vai à Marte em busca da verdade.

Sub Plots
Povo nascido em Marte protesta por um planeta livre enquanto Cohaagen, o vilão, corta os suprimentos de ar e água das colônias para as pessoas debandarem e ele adquirir as terras.

Break into Act 3
Quaid recupera sua memória e decide ir até a esfinge acabar com os planos do inimigo.

Conclusion
Quaid é o único que consegue ativar a máquina alienígena de terraformação dentro da Esfinge, fazendo com que a atmosfera do planeta torne-se habitável.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Rolezinho, Funk, Preconceito e Redes Sociais


Inacreditável como certas coisas só saem da nossa cabeça quando colocamos no papel. É a melhor maneira de colocar as ideias em ordem e tentar realmente explicar o que se passa entre uma sinapse e outra. O motivo deste meu texto é o tal do Rolezinho.

Desde que comecei a ver notícias a respeito de jovens sendo retirados dos shoppings pela força policial fiquei aterrorizado. Senti mais uma vez que estou vivendo em um país arbitrário, onde as leis realmente não servem a todos, mesmo quando passamos por uma época em que tudo é filmado e compartilhado pela rede.

Comecei então a compartilhar alguns desses posts e mostrar como eu estava indignado com tudo aquilo. Com o preconceito, com o racismo, com a intolerância. Com a maneira como aqueles jovens vinham sendo tratados, como se fossem animais. E ainda com o crescente número de pessoas que apoiavam aquela barbárie. Um número tão grande que rapidamente começou a agregar meus amigos e da noite pro dia comecei EU a ser atacado e ofendido pela rede, com os comentários mais esdrúxulos do mundo como “tá com dó, leva pra casa” ou “tá protegendo bandido (bandido?) porque não é com você” ou ainda “não acredito que você apoia esse funkeiros causando no shopping”.

Não. Não apoio. E é preciso entender isso para entender esse meu desabafo.


Quem me conhece sabe que eu acho funk uma merda. Assim como eu acho sertanejo universitário uma merda, assim como eu acho a grande maioria da cultura pop atual uma merda. Porra, eu tatuei ROCK N ROLL em letras garrafais nas minhas costas (o que nunca me impediu de gostar de Mozart, Caetano ou Sabotage). Acho esses modismos de um baixo nível técnico e intelectual gigantesco, na grande maioria das vezes não acrescentando em nada cultural ou artisticamente. Acho que em alguns casos essas músicas chegam a ser agentes de emburrecimento e acho triste a maneira como elas fazem tanto sucesso.

O Funk, assim como o Sertanejo Universitário, assim como o Forró Brega, assim como muita música pop, tem um só objetivo: oferecer entretenimento fácil e descompromissado, muitas vezes apresentando temas que mostram uma busca por felicidade imediata e igualmente fácil, a exemplo: sexo, pegação, balada, bebidas, dinheiro. Fácil de ouvir, fácil de sentir e principalmente fácil de consumir. Pra mim funk é Tim Maia, Sertanejo é Tião Carreiro e Forró é Luiz Gonzaga.

Estou falando de música, não de pessoas.

Eu não gostar, eu achar ruim ou eu não querer que meus filhos cheguem perto deste tipo de música, não significa que eu não preciso mais respeitar as pessoas que gostam. Pelo contrário, independente da minha opinião e do meu gosto musical, as pessoas tem o direito de ouvir e consumir a música que quiserem. Ponto.

Quando falamos de rolezinho não estamos falando de música, estamos falando de pessoas. E a conversa PRECISA ser diferente.


O primeiro caso que me recordo do chamado rolezinho foi no início de dezembro no Shopping Vitória. Um vídeo pulou na minha timeline com imagens que me lembravam os duros anos da extinta Febem, exceto pelas imagens terem sido feitas dentro de um shopping center. Vários jovens, negros em sua maioria, sem camisa, sentados com a mão na cabeça, sendo "escoltados" pra fora pela polícia, sob vaias e aplausos de outras pessoas presentes.

A mídia rapidamente tratou de anunciar o “arrastão” que supostamente teria acontecido no shopping. Depois de um tempo percebeu-se que por mais que as pessoas estivessem assustadas, por mais que os lojistas tivessem fechado às portas, nada havia sido roubado. Jovens detidos na delegacia foram liberados pois nenhum deles havia sequer cometido crime. Descobriu-se então que esses jovens não haviam organizado um arrastão, eles haviam organizado um baile funk que estava acontecendo nas redondezas do shopping e foi fechado pela polícia. Os jovens, que haviam saído de casa para buscar aquele entretenimento fácil citado acima, se encontraram cheios de energia e sem rumo algum. Rumaram ao shopping, local onde qualquer adolescente, independente da classe social, costuma ir para dar um rolezinho.

Causaram? Com certeza. Gritaram e cantaram e se comportaram de maneira inadequada para um shopping center? Definitivamente, como qualquer adolescente.

Foram mal-educados?

Sim. E continuam sendo, infelizmente. As escolas dos pobres não são como as escolas dos ricos. As escolas que os pais desses meninos frequentaram (ou não frequentaram) não são como as escolas que os pais dos meninos ricos frequentaram. As oportunidades são outras e a vida é mais dura pra quem tem menos. Como podemos falar em educação se tudo o que a sociedade exige, tanto do rico quanto do pobre, é consumir cada vez mais? Francamente, a realidade da favela é muito diferente da realidade dos jardins pra alguém achar que um grupo de adolescentes, depois de ser enxotado da rua pela polícia (a rua é pública), iria se portar com etiqueta dentro de um shopping center. Ainda mais com todo mundo olhando pra eles assustados.

O que aconteceu daí pra frente foi um fenômeno que ninguém havia previsto. Esses jovens, “arruaceiros”, “favelados”, descobriram que era possível se organizar e que com isso eles ganhavam força! Poderiam estar protestando contra a corrupção, ou contra a violência, ou contra qualquer outra agenda que os “intelectuais” dão importância, mas eles decidiram (consciente ou não) apenas usufruir do seu direito de ir e vir e ocupar um espaço aberto ao público. Conseguindo assim atingir seu objetivo de “causar” e chamar a atenção.


É, na minha opinião, uma forma de vomitar toda a repressão que receberam anos a fio de volta naqueles que representam o seu opressor. É algo do tipo: estou no meu direito, não estou fazendo nada errado e vocês vão ter que me engolir. Pena que ao invés de engolir, refletir e regurgitar algo novo, vemos a velha mão de ferro descendo pesada na juventude pobre. Vemos a velha segregação racial/social barrando-os na entrada. Vemos as “pessoas de bem” defendendo a ideia de que lugar de marginal não é no shopping, é na cadeia.

Lembrando a todos que marginal não significa bandido, hein? Apenas convencionou-se usar dessa forma.  Marginal é a palavra utilizada para àqueles que estão à margem da sociedade, afastados do centro (onde as coisas acontecem).

Como vivemos atualmente em uma sociedade de consumo, podemos considerar que esses antros consumistas chamados de shopping centers possuem um papel realmente central no funcionamento da sociedade. Nessa ótica fica fácil entender o pavor sentido pela classe dominante ao ver essa juventude marginal sair do “seu lugar” e começar a ocupar o centro. Difícil é ignorar a pobreza quando ela está visível e ao seu alcance, gritando no seu ouvido, sendo mal-educado, causando, rindo, se divertindo às custas das famílias que foram ao shopping gastar dinheiro, como lhes é de direito.

E por mais que eu seja contra essa sociedade de consumo, por mais que eu odeie shopping centers do fundo da minha alma, eu defendo o direito desses jovens, funkeiros, mal-educados, baderneiros etc serem consumidores também e frequentarem o shopping também e serem tratados com respeito também. Talvez o que mais doa na classe dominante seja o fato de pobres poderem consumir os mesmos produtos e as mesmas marcas dos ricos. O que antes servia para segregar agora nivela por baixo. Os funkeiros ostentação, principalmente, deixam claro que não querem mais marca de pobre ou produto do Paraguai. Eles querem a roupa de marca, a corrente de ouro, o Camaro Amarelo. Eles assistem às mesmas novelas da Globo e são influenciados pelas mesmas propagandas nos intervalos comerciais. Foram doutrinados a consumir do bom e do melhor mesmo que tenham que gastar todo o seu salário pra isso.

Nossa sociedade idiota não preza o ser, mas sim o ter. Se você tem o carro do ano, o relógio importado e o smartphone da moda, você automaticamente é melhor do que os outros sem nem precisar abrir a boca. Há tempos é assim e está ficando cada vez pior. E o interessante é que mesmo agora que os mais pobres conseguem ter aquilo que antes era só de ricos, eles continuam segregados.

Por isso vemos movimentos sociais trazendo à tona a discussão do racismo. Muita gente discorda, mas acompanhe meu pensamento:

Os seguranças dos shoppings (com ajuda da polícia em alguns casos) estão barrando jovens funkeiros de entrar. Pra definir quem é funkeiro e quem não é, eles julgam pela aparência. Não fazem perguntas, não checam as músicas do iPod, nada. Julgam pela aparência.




Resolvi buscar algumas das marcas preferidas dos funkeiros, como Mizuno, Oakley, Lacoste, Volcom, QuikSilver, Abercrombie, Nicoboco etc. Nenhuma delas custa os R$ 35,00 que eu pago numa camiseta no saldão da Renner ou os R$ 50,00 numa bermuda no Extra. Agora, o interessante é ver os modelos fotográficos dessas marcas:





Então me diga agora, qual a diferença entre as fotos dos funkeiros e dos modelos anunciados pelas marcas?

Se você falou “o fotógrafo”, errou! rs

Entende agora porque a discussão sobre racismo é necessária quando se fala sobre rolezinho? Vê agora que a discussão sobre política e direitos humanos é igualmente necessária? Mesmo quando os próprios organizadores do rolezinho não se importam com racismo, política ou direitos? Mesmo quando a intenção deles é só causar ou de repente “aparecer na TV”, a discussão faz-se necessária devido a violência que tem ocorrido ao privar esses jovens dos seus direitos. Privam-lhes do direito à educação, privam-lhes do direito ao consumo e agora privam-lhes do direito de entrar em um shopping.

E da mesma maneira que eu defendo os direitos dos babacas dos meus amigos que me reprimem pela minha posição ideológica, eu defendo os direitos de uma juventude babaca que quer causar no shopping.

A necessidade de "organizar um rolezinho" para um funkeiro poder frequentar um shopping e o fato da classe alta ficar aterrorizada ao ver um grupo de pobres em locais considerados exclusivos são a prova maior de como o Brasil tem alimentado uma cultura de desigualdade ao passar dos anos, o que só atrasa a evolução e desenvolvimento da nossa sociedade. 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Curso de Roteiro - Falmouth College University - Aula 1 - Exercício 3



O exercício 3 é um exercício de análise e prática do dia a dia do roteirista, dividido em duas partes. A primeira partes trata de escolher um programa de TV (seriado) e escrever a sua descrição, ou como a professora repete diversas vezes no PodCast, escrever o What's it about. Já a segunda parte trata de selecionar 5 episódios desse programa e escrever o storyline de cada um deles. Eu escolhi o seriado Shameless para este exercício pois estava realmente assistindo no momento e em sua primeira temporada, o que eu acho que seria melhor pro exercício do que um seriado que me é muito familiar, pois ainda não tenho conhecimento das curvas dramáticas e da evolução dos personagens, permitindo que o exercício se baseie puramente em cada episódio assistido.

Segue o resultado: 

(ATENÇÃO! CONTÉM SPOILERS)

Escolher um programa (seriado) e escrever sua descrição (what’s it about)

SHAMELESS

As aventuras e desventuras da família Galagher, uma família pobre que não tem vergonha de do seu estilo de vida e consegue sempre dar um jeitinho nas coisas para sobreviver. A linha principal do seriado gira em torno da filha mais velha, Fiona Galagher, e da maneira como ela assumiu a responsabilidade de criar seus irmãos e cuidar da casa já que seu pai, Frank, um alcoólatra inveterado, gasta o que tem e o que não tem no bar mais próximo. Além de Fiona, Frank tem mais 5 filhos: Lip, que possui um QI altíssimo, Ian, que é um homossexual enrustido, Debbie,  que ainda é criança mas quer cuidar de todos, Carl, que é o típico menino destruidor e finalmente Liam, que ainda é um bebê. Com esses personagens temos um prato feito para as mais distintas histórias, com cada episódio explorando um pouco mais de suas relações em família e com outras pessoas.

Escrever 5 storylines (de episódios)

Shameless S01E03 – Aunt Ginger
Fiona descobre que seu pai vem descontando os cheques de pensão da sua Tia Ginger e precisa provar que a Tia mora com eles para um agente federal não prendê-los por fraude. O problema é que Tia Ginger está morta e a família agora precisa encontrar uma substituta.

Shameless S01E04 – Casey Casden
Debbie está se sentindo sozinha com o pai alcoólatra e os irmãos não terem tempo pra brincar com ela. Ao passar por uma festa infantil resolve levar pra casa uma criança de dois anos de idade (Casey). Só que os pais da criança pensam que ela foi sequestrada e agora toda a cidade, mídia e polícia estão atrás da garota. A família então precisa bolar um plano para devolver o garoto sem que Debbie seja prejudicada por seu ato.

Shameless S01E06 – Killer Carl
Carl é ameaçado de ser expulso da escola devido ao seu terrível comportamento. Para evitar a expulsão a diretoria quer falar com o pai dele, mas Frank se recusa a ir em uma reunião de pais e mestres, não dando importância para o assunto. A família precisa então descobrir uma maneira de evitar a expulsão.

Shameless S01E07 – Frank Gallagher Loving Husband Devoted Father
Frank está devendo dinheiro a um agiota que enviou 2 capangas para lhe cobrar. Esses capangas já estão atrás de Frank há uns 3 episódios e, agora, para se livrar de vez dos cobradores, Frank decide encenar sua própria morte. Seus filhos se divertem com o golpe já que há muito tempo não tinham o pai em casa.

Shameless S01E08 – It’s Time to Kill the Turtle
Frank entra em um experimento médico sobre alcoolismo onde ele ganhará 3 mil dólares se ficar sem beber por duas semanas. Sóbrio, precisa encontrar maneiras de se ocupar para não pensar no vício então começa a se divertir com seus filhos novamente. Infelizmente, enquanto os mais novos estão encantados com o “novo pai”, os mais velhos sabem que assim que ele pegar o dinheiro voltará a beber e abandonar os filhos novamente.