domingo, 1 de setembro de 2019

Moby Dick

Trinta e sete e vivendo em Vancouver. A vida não poderia estar melhor e mesmo assim, ainda me açoito no espelho. Tudo bem, é normal. O processo de cura é longo. Vi aqui no blog que já dura ao menos 4 anos. Quem dera fôssemos mais simples.

Hoje senti uma ansiedade que há algum tempo já não sentia. Diferentemente da depressão, que chega de mansinho e te puxa pra correnteza, a ansiedade chega na voadora, diretamente relacionada a algum gatilho ex(in)terno. No meu caso foi a ação equivocada (ou melhor dizendo, a falta completa de ação) justamente quando me encontrei frente a frete com minha Moby Dick. Estava lá, na minha frente, a baleia branca que há tantos anos procuro nos lugares errados, mas que veio nadar nas águas calmas da minha solidão.

E eu simplesmente não entrei na água. Ela tentou chamar minha atenção uma, duas, três vezes... E eu inepto, alienado do universo em meu redor. Moby Dick olhou-me dentro dos olhos, mas eu não tive coragem de olhar de volta. Apenas fingi não tê-la visto da mesma maneira que ela me viu. O chamado da aventura desperdiçado.

Trabalho. Essa é a desculpa. Virei-me pro lado para resolver os milhões de problemas que o sistema capitalista impõe na minha vida como se isso fosse desculpa suficientemente plausível. E era. E ela se foi.

E segundos depois eu já sentia sua falta. Olhava para o mar na esperança de ver se ela ainda estava lá, se ia voltar para me ver, se ao menos houvesse errado o caminho e passasse de novo na minha frente indo ao lado oposto. Nada. Passei à noite olhando o mar e nada.

estou em casa. A garrafa de sakê minha única companhia. E um Led Zepelin melancólico tocando no fundo, se é que isso é possível.

Ramble on!