domingo, 25 de março de 2018

Dia Internacional da Mulher

* Originalmente publicado em 8 de março de 2018


Dia internacional da mulher, pra mim, não é dia de flores, não é dia de parabéns, não é dia de pagar de isentão. É dia de reflexão.

A data, apesar de muitos esquecerem ou nem saberem, é marcada pelo dia em que 130 trabalhadoras de uma tecelagem em Nova York protestavam através de uma greve e, como resposta, foram trancadas e incendiadas na própria fábrica onde morreram carbonizadas. Hoje, quase 200 anos após essa tragédia, as mulheres ainda precisam lutar com unhas e dentes para serem respeitadas, para serem tratadas com dignidade, para não terem medo de andarem na rua. Ainda mais em épocas onde ideias machistas parecem tomar cada vez mais espaço na internet e até na política.

Pra nós homens que temos um mínimo de esclarecimento, é fácil falar sobre os direitos das mulheres, sobre a necessidade de que elas tenham igualdade, sobre como somos contra a violência diária pela qual elas são submetidas pela sociedade. Difícil mesmo é identificarmos os traços do machismo que ainda carregamos em nós, mesmo que inconscientemente, por toda a carga depositada em nós através dos séculos.

Sempre me considerei uma pessoa consciente, apoiador do movimento feminista, de pensamento progressista e mente aberta. E ainda assim acabei me colocando em uma situação de abuso onde, pra minha surpresa, eu era o opressor. 

Estava em uma festa no ano passado com amigos, completamente bêbado. Achei que estava rolando um clima com uma amiga que na verdade era apenas uma amiga. Chamamos um táxi pra comer um lanche e eu tive a infeliz ideia de mandar o táxi pra um motel ao invés da lanchonete. Ela estava muito bêbada também, e quando viu onde estávamos, teve um ataque de riso. Falou que não acreditava que eu tinha levado ela o motel, que não ia rolar nada mas que como estava com muita fome, que comêssemos o lanche ali mesmo. Eu, ainda infeliz, achei que se ela estava rindo é porque estava gostando. Entramos, comemos o lanche, ela mais uma vez deixou claro que não ia rolar nada. E não rolou nada. Dormimos ali mesmo.

No dia seguinte, já sóbrio, tentei esconder minha vergonha com piadas. Acho que até fiz piadas demais, pois o clima ficou estranho. Fomos embora, cada um pra sua casa. Horas depois, recebo uma mensagem dela, sóbria também, me explicando o tamanho da cagada que eu tinha feito. Basicamente ela falou o quanto havia se ofendido com o fato de eu ter levado ela pro motel sem ela não ter dado nenhuma indicação que era isso que ela queria, ou mesmo sem eu nem ao menos ter perguntado pra ela o que é que ela queria. Disse que só entrou no motel porque muitas vezes não se sentia à vontade de dizer não, porque não queria ser julgada, porque por estar bêbada não sabia se de repente havia me levado a pensar que era isso que ela queria, e que na hora se sentia culpada e não queria ofender um amigo... E que ela se sentiu mal com tudo isso e se sentiu culpada com tudo isso e que não cabia a ela carregar essa culpa. E que, fim da história, depois de uma festa ótima e de muitas risadas, eu havia feito ela se sentir mal.

Aquilo foi pra mim como um soco no estômago. Até então eu estava vendo tudo apenas como uma história louca de bebedeira, jamais como uma ofensa. Repassei tudo o que tinha acontecido e percebi que ela tinha razão. No fundo, a verdade é que ela deixou rolar coisas que não se sentia à vontade pra não ofender um amigo e eu ofendi uma amiga porque queria transar. 

Pedi desculpas, de mil maneiras, mas nenhuma suficiente pra tirar a ofensa de dentro dela ou a culpa de dentro de mim. 

Espero que ela não se ofenda lendo isso. Provavelmente os fatos colocados sob a ótica dela sejam até diferentes do que eu escrevi. E se pisei na bola de novo, é porque estou tentando crescer, estou tentando progredir. Já me é fortuito demais o simples fato de ela me considerar amigo o suficiente pra falar onde eu errei. Muitas pessoas apenas se afastariam.

E sei que muitos dos meus amigos devem estar lendo isso e achando que não foi nada demais, que não houve abuso propriamente dito, ou que eu não deveria ter me sentido mal pois não agi com maldade. Pois é, amigos. É justamente esse tipo de pensamento que eu tô tentando me livrar.

Então, afinal, 8 de março, dia internacional da mulher, só tenho duas coisas a dizer. Mulheres, por favor continuem lutando. Homens, temos muito que aprender.


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