sábado, 15 de agosto de 2015

Justificativas e Paciência

O que vale mais para um homem, mentir e manter-se vitorioso ou falar a verdade e suportar as consequências dos seus atos?

Eu optei pelo segundo e não estou suportando mais. Não consigo entender realmente como possa doer tanto... De onde vem esse sentimento de traição que não aceita outra versão, outra ideia de amor? Será a tradição católica pesando nos ombros como patas de mamutes? Ou será um bloqueio minuciosamente colocado na mente através dos anos graças a um ressentimento de outrem durante a criação?

Novamente opto pelo segundo.

E ainda assim sou chamado de cínico, de egoísta, de filha da puta. Sou ameaçado, ora na piada, ora seriamente. Como numa novela mexicana, a vontade de vingança escapa dos lábios dela em minha direção como cobras afiadas. “Vou gozar muito no pau de outro cara”. Quando você menos esperar, vai ter o que merece”. Ora, até “Vou cortar suas bolas fora” eu tive que ouvir.

Por que? Como a vingança pode trazer qualquer coisa de bom? Se quer gozar no pau de outro cara, que o faça! Mas por prazer, sempre! Nunca por vingança. Faço algum sentido em meus pensamentos?

Não consigo entender, de verdade, onde tudo isso vai parar. Poderia eu ter ficado quieto, como disseram-me todos e todas desde que me conheço por gente, assim como gritava meu instinto. Mentir é se preservar. Mas nesse mundo louco que vivemos, resolvi ser diferente da maioria. Resolvi ser sincero comigo, e com quem eu amo.

Então contei pra ela, por escolha própria, e detalhei parte por parte, minuto a minuto, por escolha dela. E ela quis saber de tudo. E eu, tolo e inocente que sou, caí como um patinho.

Houve um papo de compreensão. Houve algumas horas de evolução. E agora já alguns dias de depressão, raiva e medo.

Estou aqui, trancado no quarto esperando uma resolução. Minha, não dela. Nem imagino o que ela vai dizer, o que ela vai querer, o que ela vai fazer.

Dormir com outra mulher foi um ato egoísta sim, mas isso não significa que eu seja egoísta o tempo todo, de maneira nenhuma. Não depois de ter me dedicado todo esse tempo por ela. Não depois de ter esperado esse tempo todo por ela. Não. Não acho justo.

Não acho que ela seja obrigada a conviver com isso, mas não me lembro de nunca ter dito que eu acredito na monogamia. Pelo contrário. Me lembro muito bem que quando nos conhecemos eu pesquisava participar da ong “Fuck for Forest”. Me lembro de sempre falar sobre Menages e putarias diversas. Me lembro de falar de amor livre e apresentar Hair como um dos meus filmes favoritos. Me lembro de falar da visão do Fela Kuti quando assistimos juntos seu documentário.

Me lembro de tanta coisa... E não vou negar que lembro dela me pedindo para não fazê-lo. Que eu sabia que no fundo isso a magoaria... Como se esses argumentos me justificassem. Sei que não.

Mas é que a vida toda eu me fiz acreditar que as coisas poderiam funcionar de outro jeito. E jamais pensei que ela, a quem faço minha rainha, pudesse simplesmente responder como uma esposa comum, uma dona de casa de novela da Globo.

Existe a questão da depressão e das variações químicas no cérebro graças a um inúmero de drogas. Pior quando misturadas com álcool, apesar das minhas advertências. Isso me parece ser mais latente do que a questão da traição em si.

Até porque, pensando bem agora, que justiça é essa de me chamar de cínico, quando ela se coloca na mesma posição. Ou não seria cínica uma pessoa que promete incontáveis vezes que vai fazer algo a respeito mas continua repetindo os mesmos erros? Que nem ao menos toma seu remédio direito, que continua escolhendo o caminho da dor e do sofrimento todas às vezes.

Eu sei que é uma doença... E me falam o tempo todo que eu preciso ser paciente. Mas são quase três anos de paciência e não sei quando nem quanto disso vai mudar.

Penso de novo em ir embora. Me sinto sozinho quando ela está nesse estado.

E me dói muito, pois essa não é ela. E como explicar para uma pessoa que ela não está pensando as coisas direito. Como mostrar que não é uma questão de relacionamento, mas de desequilíbrio. Como fazer isso sem ofender, sem parecer arrogante, sem desmerecer os pensamentos e sentimentos dela.

Ainda não sei fazer. Cada vez que abro a boca parece que só pioro as coisas.

Fumo pra me acalmar, pra conversar como um cavalheiro. Mas a maioria das vezes já é tarde demais.


Só me resta esperar.

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